
Momento em que a fotógrafa se escondeu para que não fosse vista pelo morador de rua. Foto por: Bruna Couto
O fato de o jornalismo possuir uma responsabilidade com a manutenção social não é novidade à todos. A possibilidade tornar "descoberto" ao público problemas que são "encobertos" pelos governantes (e vice-versa) , torna o jornalismo um dos ofícios mais prestigiados no tocante à solução de questões que impedem o bom andamento da sociedade.
Sabendo disso, pode-se destacar ainda que a maioria das denúncias feitas em veículos de informação possuem mais veemência graças ao uso de imagens, pois estas captam a realidade e a apresenta ao público de maneira extremamente fiel, possibilitando ao mesmo fazer uma leitura fidedigna dos males que afetam os contextos expostos nas produções jornalísticas.
Ao pautar algum problema social, o jornalista deve estar ciente das consequências (boas ou não) da produção e publicação deste material, uma vez que o mesmo possui ligação direta na vida de pessoas inseridas na realidade retratada. Dessa forma, partindo de indagações pessoais, nosso grupo problematizou a questão do desalheamento popular e governamental à questão do saneamento básico em vários pontos de Campina Grande e Lagoa Seca, e, entre os dias 11 e 14 de junho, produziu uma série de fotos em locais onde há irregularidade nas coletas de lixo.

Rua deserta oferecendo perigo á fotógrafa. Foto por: Isabel Costa
Apesar de ser um tema "comum" à nossa realidade, não percebemos o quanto seria difícil registrar imageticamente os contextos escolhidos e, com certeza, esquecemos dos riscos de segurança que estaríamos sujeitas ao tentar fotografar lugares periféricos. Sem dúvidas, esta foi nossa maior dificuldade.
Os bairros campinenses José Pinheiro, Malvinas e Catolé, além da pequena cidade de Lagoa Seca, foram os locais escolhidos para nossas fotos. Apesar de ter como modelo as fotografias de Lewis Hine, o pioneiro na fotografia documental, nossas produções não priorizaram o uso de personagens para serem compostas. Nós privilegiamos o problema em si, fotografando o descaso sem se ater à personagens que pudessem ilustrá-lo, mesmo que nosso desejo fosse o contrário.
No José Pinheiro, várias crianças da periferia se esconderam da câmera, e alguns usuários de drogas residentes nas margens do canal fotografado expressaram raiva ao serem avistados. Já no Catolé, a maior dificuldade foi tentar demonstrar a existência de um descaso em meio a um bairro considerado "nobre". Nas Malvinas e em Lagoa Seca não foi diferente: o medo de assaltos e da violência causada pela má recepção das pessoas que estavam nos lugares fotografados fez a câmera tremer, e muitas fotos tiveram a composição prejudicada.
Tecnicamente, pudemos sentir nos resultados a falta de possuir câmeras profissionais, mesmo que, por outro lado, tenhamos saído em vantagem com os celulares pela facilidade de locomoção que os locais pediam e o objeto possibilita. Apesar de não possuir o mesmo valor financeiro das câmeras, os aparelhos celulares possuem importância para além de financeira, justificando nosso temor de assaltos. Graças às baixas resoluções das câmeras dos celulares, precisamos investir na pós produção, realçando as cores das imagens para "dar vida ao problema". Ademais, achar o melhor ângulo foi necessário não só para a composição da foto, como também para não chamar a atenção de quem passava nos locais.
Sendo assim, a nossa fotorreportagem nos permitiu, para além da produção jornalística, a criação de um mecanismo de melhorias sociais: a experiência do fotojornalismo. Os defeitos governamentais e populares, retratados em nossas imagens, deixa transparecer a necessidade de se exercer o fotojornalismo de maneira coerente para, assim, cumprir o compromisso cidadão que o jornalismo possui, e este, não conhece limites.