Quem se deleita com a vista "gourmetizada" do açude centenário de Bodocongó, proporcionada pelo parque de mesmo nome, não imagina o que se passa do outro lado. Invisível às margens do açude que visto de longe é bonito aos olhos, mas que se visto de perto é quase que inevitável controlar o embrulho no estômago. Essa é a sensação gerada em quem percebe as contradições presentes em um dos pontos mais tradicionais de Campina Grande.
O açude foi projetado por volta de 1915 quando uma grande seca se alastrava por Campina Grande. A obra durou todo o ano de 1916 no local que era conhecido como Riacho de Bodocongó. Foram mais de 150 trabalhadores que deram vida ao açude.
Pescadores que vivem próximos ao local, contam que nos anos 80 o fluxo de Canoas era grande, e que na época as águas do açude eram um lazer para a sociedade campinense. Os pescadores ainda contam que com o passar dos anos a água do açude vem diminuindo e isso dá pela falta d'água.
Caminhando pelas margens do açude que em 2016 completou 100 anos, o impacto e a diversidade do que de vê é grande. Vai desde pescadores tentando a sorte com um anzol a beirada de um açude tomado por mato. O gado se refresca do calor nas águas escuras e se alimenta da vegetação aquática que ali nasce.
Caminhões pipa que diariamente estão se abastecendo da água do açude para vender, água essa contaminada por um esgoto fétido e lixo espalhado por toda margem. Ali ainda é possível observar jovens que mergulham numa água que certamente deve ser imprópria para o banho. Moradores vizinhos ao açude afirmam que por ali sempre são lavados carros e caixas que são usadas para transporte do abate de aves.
O que se vê no açude de Bodocongó é resistência e descaso. De um lado um povo que luta e depende das águas poluídas do açude para tirar seu sustento. Do outro, o poder público que parece não se importar com a limpeza do local, ou se quer com o cadastro dos pescadores e com a saúde das pessoas que ali vivem.
A vista gourmet que o parque proporciona é uma maquiagem para o que de fato acontece nas entrelinhas.
FICHA TÉCNICA:
Reportagem, fotografia e pós produção: Samanta Rocha, Malu Teixeira, Marcus Pedrosa, Wallington Cruz
Monitoria: Joyce Lima
Supervisão Editorial: Rostand Melo