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Artistas de rua e pequenos comerciantes retomaram atividades após pandemia

Letícia Ferreira, Ana Luiza, João Paulo

Fotografia do salão de artesanatos da paraíba
Foto: João Paulo

Em 2019, o mundo se viu parado por uma pandemia, e com isso vários comércios autônomos fecharam as portas ou não puderam funcionar por causa da doença. Entre eles, o Salão de Artesanato da Paraíba deixou de funcionar durante dois anos, prejudicando não só o evento, como também centenas de artesãos que trabalham o ano todo pra ter a oportunidade de mostrar e vender sua arte para visitantes e turistas. A feira é anual e se localiza na cidade de Campina Grande onde também acontece o maior São João do mundo. Além de movimentar a cultura nordestina, o Salão de Artesanato ajuda na economia local e dos artesãos.


"Com a pandemia, as pessoas ficaram com receio de gastar, então foi muito difícil durante esse período"

"Com a pandemia, as pessoas ficaram com receio de gastar, então foi muito difícil durante esse período" disse dona Maria Helena sobre as dificuldades encontradas durante a pandemia. A partir de 2022, a feira voltou a receber visitantes depois de muito tempo sem funcionar, e mesmo assim ainda falta turistas e clientes para suprir as necessidades deixadas pela pandemia. Uma prova disso, é que vários artesãos já deixaram o salão antes do final da primeira edição após a retomada, pois consideraram que não valia a pena e não cobria os gastos, sem lucro capaz de cobrir se quer as despesas mais simples.


É notório que a pandemia trouxe um grande impacto afetando diretamente as atividades dos trabalhadores. Para os vendedores ambulantes, por exemplo, a realidade foi mais desafiadora, principalmente para aqueles que já viviam em vulnerabilidade econômica e por conseguinte, a única renda neste período foram auxílios governamentais.

Fotografia de autônomo com doces e iguarias diversas em tenda
Foto: Ana Luiza

Do período de total lockdown os comerciantes em geral e principalmente os pequenos negócios, tiveram que se adaptar ao “novo normal”. Segundo pesquisas do Sebrae, cerca de 31℅ dos pequenos negócios precisaram se adaptar para manter a saúde financeira. Os trabalhadores autônomos foram os mais prejudicados.


O pior momento para os trabalhadores autônomos ocorreu no segundo trimestre de 2020, quando a categoria recebeu 24% a menos do que a renda habitual. Em uma comparação por faixa de renda, a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a pandemia afetou proporcionalmente os mais pobres. Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, o total de domicílios sem renda do trabalho aumentou de 25% para 31,5%.


Na terra de grandes festejos juninos a economia é movida principalmente pelos pequenos comerciantes e autônomos, com um número considerável e cada vez mais crescente. A pandemia trouxe grande impacto econômico para a cidade, bastante perceptível entre os meses de junho e julho, pois nessa época um grande número de empregos formais e informais eram gerados. Com o retorno da festa em 2022, esse quadro mudou e a esperança que a economia voltaria a aquecer novamente na cidade se concretizou.


Fotografia de vendedor ambulante com sua bicicleta no centro de Campina Grande
Foto: Letícia Ferreira

Para quem vive de arte ou de atividades não essenciais, a situação foi um pouco pior. Passando pelo centro de Campina Grande era quase impossível não perceber o vai e vem de pessoas, os gritos dos ambulantes, a panfletagem e música que vem de suas ruas, seja de dentro dos ônibus, das lojas, na feira ou no calçadão, em todos esses ambientes temos esses personagens que podem até passar despercebidos pela pressa, mas que estão por ali diariamente na luta pelo sustento familiar.


Durante a pandemia vimos esses rostos sumirem, ou eles viram os nossos rostos sumirem? Quem engraxou sapato durante pandemia ou comprou roupa nova? Quem se arriscou nos coletivos por simples passeio?


A época difícil parece ter ficado pra trás com a drástica redução nos casos de Covid-19 em 2022 e com o avanço da vacinação, mas a vida ainda caminhava em passos lentos para se adaptar ao pós-pandemia. E para quem se viu obrigado a parar de trabalhar, essa “normalização” parece vir de forma ainda mais gradativa.


“As pessoas dizem que tá mió, mió pra mim ainda não tá”

Seu Francisco de Assis é ambulante, e com sua bicicleta percorre as ruas de Campina Grande todos os dias em busca do pão de cada dia.


Assim como tantos outros Franciscos, o lockdown e o consequente fechamento do comércio por mais de 2 anos, impossibilitou o viver e o trabalhar, para quem depende unicamente do próprio esforço, quem se quer possui direitos trabalhistas. Como vender bala, pirulito, brinquedo, sem criança? Como vender artesanato, doces e goma de tapioca sem cliente na rua? Como fazer um repente improvisado no ônibus vazio?


“Era no ônibus, na feira, o artista de rua precisa enfrentar o público... As apresentações ficaram mais difíceis, vários eventos relacionados ao São João não ocorreram."


Artista de rua com pandeiro em ônibus Campina Grande
Foto: Letícia Ferreira

Will Jeferson é artista e rua, repentista e encontrou na pandemia uma barreira entre ele e o seu público.


“O pessoal não podia se aproximar, e pra embolada fica muito difícil, você tem que se aproximar, você faz um verso elogiando, brincando, então a gente teve dificuldade. Mas graças a Deus agora tá dando tudo certo.”

A fé parece ter sido o alento de tantos artistas, autônomos e pequenos comerciantes nessa seca estação. Em um país onde ricos enriquecem mais em tempos pandêmicos, o trabalhador se reinventou e resistiu, e em 2022 a esperança! De dias melhores, mesa farta e sorrisos nos rostos que ficaram cobertos por tanto tempo.


Confira mais fotos no slideshow:


Série Pandemia 5 anos:

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou a classificação da Covid-19 para pandemia, indicando que a doença já havia se alastrado por todos os continentes. Naquele dia, os dados oficiais apontavam que mais de 118 mil pessoas já tinham sido infectadas em 114 países. O Brasil, já tinha 52 casos confirmados da doença. O estado de pandemia foi mantido pela OMS até 5 de maio de 2023.


Para marcar essa data histórica, o Coletivo F8 inicia hoje uma série especial sobre os 5 anos de pandemia, com reportagens produzidas por estudantes do curso de Jornalismo da UEPB.


 

EXPEDIENTE

Fotografia e Reportagem: João Paulo, Ana Luiza Souza e Letícia Ferreira

Supervisão Editorial: Rostand Melo

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