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Valmir Pereira: Força e perseverança na contramão da desvalorização

  • Foto do escritor: Altair Ian Oliveira Alves
    Altair Ian Oliveira Alves
  • 1 de mai.
  • 3 min de leitura

Fotografia: Kauan Nascimento


Natural de Campina Grande - PB, Valmir Pereira da Silva tem 40 anos e, de forma autodidata, já exerceu várias profissões. Foi borracheiro, encanador, eletricista, marchante, entre outras funções. Hoje em dia, trabalha como pedreiro, uma profissão extremamente desvalorizada em nossa sociedade. Filho de um pedreiro, mas que veio a se aposentar como gari, tem seu pai como grande exemplo e fonte de inspiração, sobretudo, em suas raízes e força para o trabalho árduo.


Por força da necessidade, Valmir abdicou dos estudos aos 14 anos e ainda na adolescência deu início a construção do profissional que é hoje. A lida na área da construção civil não foi algo passado de geração em geração. Ele não aprendeu o ofício com seu pai, mas sim a partir da curiosidade, interesse em aprender algo novo e vontade de ter coisas que seus pais não podiam lhe dar.


Com observação aguçada, começou a trabalhar na informalidade, com bicos. “Eu parei os estudos muito cedo, porque eu queria uma bicicleta, queria ter as coisas e meu pai não podia me dar, porque naquele tempo era tudo muito difícil, aí apareceu uma sapata para eu encher. Eu era doidinho para comprar uma bicicleta, então fui lá fazer”.


Com o tempo, começou a desenvolver talento para a coisa. De início, tornou-se servente, como popularmente se chama o ajudante de pedreiro. Trabalhou assim por muito tempo e somente aos 30 anos se consagrou pedreiro. “O servente de hoje é o pedreiro de amanhã”, afirma sobre o início na profissão.


Fotografia: Kauan Nascimento


Valmir ressalta as dificuldades enfrentadas, sobretudo, pela falta de reconhecimento de sua atividade profissional. “Se você tiver um diploma, você pode ter um bocado de coisa, tem a opção de escolher o serviço que desejar”.  Sua observação reflete uma sociedade que reconhece profissões que demandam formação superior e subestima atividades como a de pedreiro e demais que perpassam a informalidade e o trabalho braçal. 


Afirma que mesmo não tendo concluído o ensino básico, seu pai sempre preferiu que seus filhos optassem por estudar, pois não queria que viessem a ter a mesma realidade do trabalho árduo dele. Hoje, Valmir se vê como fonte de grande incentivo aos estudos de seus filhos. “Sim, incentivo. O estudo é tudo, né? Em casa mesmo eu mando os meninos estudar. Para não fazer o que eu já fiz, trabalhar desse jeito, trabalhar no pesado. O estudo é tudo”.


Valmir enfatiza que o fruto do seu trabalho permanece por anos, décadas, séculos. Se constitui o lar de alguém, o abrigo de muitos, mas isso não é visto, não é considerado. Uma desvalorização que se reflete na pechincha, no descaso, na cobrança pela pressa e mesmo no preconceito por quem trabalha sob o sol e sob a chuva, com poeira, peso e cansaço. Mas isso não o faz perder a estima por seu trabalho.


 “É muito bom você fazer parte do sonho de alguém, infelizmente o povo não dá valor, mesmo sendo algo que fica pra toda uma vida. É como diz a música de Zé Ramalho, que fala que nem podemos entrar no prédio que ajudamos a levantar. Mas é assim mesmo, o pedreiro morre e a obra fica".



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Hoje, Valmir se dedica com afinco a sua vida como pedreiro, mas ao ser questionado se ainda pretende se especializar em outra profissão, alega que tem mais um sonho pela frente, deseja se aposentar como marchante. “Meu sonho mesmo é ser açougueiro, um marchante, cortar carne, fazer linguiça. É melhor, não pega muito no pesado”.


Enquanto essa vontade não se torna realidade, ele se dedica a mais um sonho, que alimenta desde os 14 anos: morar em uma casa feita por suas próprias mãos. Este sim é um projeto que está bem perto de se concretizar. Entre um contrato e outro, ele trabalha na construção de sua casa própria.


Ao se referir sobre qual sentimento em ver que um sonho de anos, está cada vez mais próximo, afirma: “Estou muito feliz, vi meu pai trabalhando, aprendi e agora posso fazer algo que vai durar pro resto da vida. De tijolinho em tijolinho vou alcançando a vitória, como sempre foi em minha vida”. Valmir já construiu a casa de tanta gente, mas ainda sonha com um cantinho só seu para morar.




EXPEDIENTE

Supervisão Editorial: Rostand Melo e Ada Guedes

1 Comment

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Guest
May 04
Rated 5 out of 5 stars.

muito bom!!!!

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