Movimento cultural que tem origens na década de 1970, no Bronx, em Nova York - Estados Unidos, o hip hop chega ao Brasil primeiro em São Paulo, ainda na década de 1980. O movimento que compreende diferentes formas de expressão artística como músicas de rap, grafite, breakdance e a presença de DJ, também deu origem às chamadas batalhas de rima, que são justamente o encontro, em espaço urbano, onde grupos de MCs desafiam-se na disputa de rimas afiadas, com criatividade e persuasão lírica.
As temáticas quem compõem as rimas são aquelas que cercam o cotidiano e desafios do jovem que vive em bairros periféricos das cidades. Nas batalhas, não é apenas a agilidade mental que conta, mas também o conhecimento para desenvolver rimas e métricas, sempre com uma base de argumentos sólida e uma bagagem cultural que acrescenta peso ao movimento.
Mais que entretenimento: batalha não é rolê
Para os jovens, o rap é mais que música, é estratégia de denúncia e sobrevivência, uma maneira de dar voz às realidades que muitos preferem silenciar. Em Campina Grande, o movimento tem conquistado cada vez mais espaço no cenário cultural, com artistas ganhando destaque e as batalhas de rima sendo realizadas durante a semana em várias partes da cidade, desde bairros periféricos até os centrais.
Para Àlferys Gonçalves Santos, poeta e organizadora da Batalha do Bacurau, não se trata apenas de simples competições:
“Para além de uma forma de entretenimento, são espaços de resistência cultural e transformação social. É nela que a juventude, especialmente da periferia, encontra voz, expressa suas vivências e cria um diálogo com a cidade.”
Esse processo de transformação é também expresso pelas palavras de Ruth Costa Rodrigues, conhecida no movimento como Rodrigues. A jovem poeta de 17 anos tem vivido de perto o impacto das batalhas de rima. Para ela, suas poesias são o reflexo de sentimentos profundos:
“Os temas que eu costumo abordar são sempre relacionados a sentimento, seja amor, tristeza, raiva, arrependimento, ou um simples desabafo de cansaço. As inspirações para as minhas rimas vêm do que eu vivo, do que sinto no meu coração.”
Apesar das dificuldades, o movimento das batalhas continua resistindo e se expandindo: “Se for analisar de fato, as batalhas revigoram, ajudam as pessoas, fazem o bem. Eu vejo as batalhas de rima como uma forma de resistência porque a gente luta contra toda a injustiça que a sociedade faz com a gente!”, afirma Rodrigues.
O poder de transformação das batalhas de rima está na maneira como esses espaços oferecem aos jovens uma oportunidade para redefinir o rumo de suas vidas e continuar tradições que marcam a história da cidade e da cultura. Além disso, em vez desses artistas se posicionarem como vítimas do abandono social, se transformam em protagonistas das suas próprias histórias, utilizando as rimas para expressar seus anseios, suas lutas, suas vitórias e, principalmente, inspirar aqueles que realmente estão dispostos a ouvi-los.
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Jovens participam da Batalha de Rima - Fotos: João Paulo Lima e Andrei Oliveira
Arte, cultura e resistência
Kleyton Jorge Canuto, Doutor em Estudos da Mídia e professor de jornalismo na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), as batalhas de rima são parte de um movimento maior, manifestações de resistência, espaços para a construção de identidades e horizontes de futuro.
Para ele, “a discussão sobre a importância da ocupação dos espaços urbanos pelas vozes das periferias mostra para a sociedade como um todo, que a cidade tem os seus anseios, suas formas de expressão, seus recados, e isso também permite um regime de visibilidade, que é uma forma desses jovens dizerem: Eu estou aqui. Eu também tenho voz. Eu tenho a necessidade de me expressar!”
Há, contudo, uma relação de faltas que permeia a periferia, mas há também a resposta a existência desse não lugar, pois a cidade é de todos e a ocupação desses espaços se faz emergente, pois trata-se de algo estrutural, como afirma o professor Kleyton:
“A falta de políticas públicas vai afetar os jovens de periferia a partir do momento em que fecham uma porta de oportunidades para que desenvolvam suas habilidades. Quando é negado uma estrutura escolar que possa desenvolver a expressão artística, condiciona esses jovens a um determinado tipo de saber. Quando são negados os espaços como praças equipadas, centros de formação e eventos que permitam o acesso à cultura nas periferias e no centro da cidade, estamos fechando uma possibilidade de contato com outras práticas e universos que possam redimensionar seus gostos e entendimentos sobre as diferenças culturais no mundo.”
O movimento das batalhas de rima é uma forma de resistência e reinvindicação e segue respirando através de artistas talentosos e resilientes como Àlferys e Rodrigues, e tantos outros que compõem o cenário do rap, provando que, por meio de palavras, é possível lutar e abrir portas para um futuro mais criativo e mais justo. Eles permanecem afirmando suas vozes em um mundo que tenta silenciá-los: “Pra mim a batalha de rima representa esperança. Eu sempre faço um trocadilho, coloco um "E" no final do hop que significa esperança em inglês (hope).
O hip hop salva vidas, passa muita ideologia massa pra galera, visão de como é a realidade. Pra mim o rap é isso, é esperança, é vida, é salvação!”, Rodrigues.
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Jovens participam da Batalha de Rima - Fotos: Marcele Saraiva, Andrei Oliveira e Jonas Souza
EXPEDIENTE
Fotografia: Jonas Souza, Andrei Oliveira, Marcele Saraiva e João Paulo Lima
Entrevistas: Andrei Oliveira e Marcele Saraiva
Reportagem e texto: Marcele Saraiva e João Paulo Lima
Edição: Jonas Souza
Monitoria: Bianca Dantas e Cecília Sales
Supervisão editorial: Rostand Melo e Ada Guedes
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