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Fred Medeiros e o segredo para a satisfação profissional

  • Foto do escritor: Coletivo F8
    Coletivo F8
  • há 3 dias
  • 8 min de leitura
Foto: Isabelle Barbosa
Foto: Isabelle Barbosa

Fred, como é conhecido por seus alunos, não apenas defende essa assertiva como acabou fazendo dela a máxima de sua vida. Formado em Letras Inglês pela UNIFIP, em Patos-PB, aos 26 anos, ele logo começou a lecionar e foi no colégio Damas, em Campina Grande, onde ensinou por mais tempo e adquiriu experiência, tornando-se coordenador bilíngue da escola. Em Esperança, no interior da Paraíba, Fred amplia sua atuação no ensino como empreendedor, abrindo uma franquia do CNA (Cultural Norte Americano), rede brasileira de escolas de idiomas privada. 


Em agosto de 2024 foi diagnosticado com Linfoma não Hodgkin na orofaringe e precisou se afastar das atividades. O câncer, de tipo raro, reconfigurou sua visão sobre muitas coisas, mas só revelou o tamanho de sua fé. A paixão pela docência tem sido um combustível no retorno às atividades após uma fase tão difícil.


A história de Fred é inspiração para quem vê na docência um caminho de realização e sucesso profissional em tempos de descrédito com o ofício de educador. Ele não só se vê realizado como busca incentivar pessoas a trilharem caminhos promissores na área da educação. Nesta entrevista, é possível também apreender um relato de fé, determinação e positividade diante de percalços assustadores da vida.


Foto: Isabelle Barbosa
Foto: Isabelle Barbosa

Quem é Fred Medeiros?

Pergunta difícil. Bom, sou um professor de inglês que no início nem pensava em se tornar professor. Na verdade, eu queria ser agrônomo. Cheguei a estudar zootecnia, mas, devido a um casamento precoce, os planos mudaram. Desde que me mudei para o sertão, por falta de opção e oportunidades, acabei indo estudar inglês para ocupar o tempo e foi aí que, de fato, me encontrei.


Você se lembra quando exatamente sentiu a vontade genuína de aprender inglês?

Na verdade, eu não diria que senti uma vontade genuína. Eu morava em uma cidade pequena, nome da cidade, no sertão da Paraíba. Então, quando abriu um curso de inglês na cidade vizinha, que ficava a 25 km, decidi começar a estudar só pra passar o tempo, mas, já nas primeiras aulas, o professor me dizia: “se interesse e se esforce, pois vejo muito potencial em você”, e claro, ouvir isso me motivou bastante.


Foto: Isabelle Barbosa
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São 26 anos contribuindo para a educação, qual é a sensação de olhar para trás e ver tudo que conquistou?

É como se fosse um filme passando pela minha cabeça. Na época, estavam precisando de um professor em uma escola lá em Patos, no sertão da Paraíba e o meu professor me convidou para dar uma aula experimental. Foi até engraçado, porque eu pensei que ele estava brincando — eu não me sentia pronto, mesmo assim eu fui. Quando cheguei, o diretor ficou na sala assistindo à aula e com 15 minutos ele saiu. Pensei que a aula estava ruim, mas, quando terminou ele me disse: “eu saí porque você já está mais do que preparado para dar aula em qualquer turma.”


Então, olhar pra trás, ver como tudo começou e tudo que conquistei através da educação, é muito gratificante.

Foto: Isabelle Barbosa
Foto: Isabelle Barbosa


Você tem certificados e prêmios de sua atuação, poderia nos contar quais foram os mais marcantes nesses 26 anos como educador?

Acredito que o mais marcante foi o Certificado de Cambridge. É um certificado que todo professor de inglês almeja e conquistá-lo não foi fácil. Precisei conciliar meu tempo entre trabalho, estudos e família. Foi preciso muito foco e disciplina. Além do Certificado de Cambridge, outro diploma essencial foi o do curso de Letras. É importante ressaltar que eu me tornei professor sem ser formado em Letras. Quando disse à minha mãe que iria começar a dar aula, ela me disse: “professor de inglês que não é formado em Letras não é professor de verdade”, então comecei a faculdade em 1999, me tornei professor em 1999 e no dia do professor de 1999 minha mãe veio a falecer. Eu creio que tudo tem um propósito de Deus. Depois disso, nunca mais tive dúvidas de que essa seria a profissão que eu seguiria para o resto da minha vida.


Foto: Isabelle Barbosa
Foto: Isabelle Barbosa


Na sua visão, porque o inglês é tão importante a ponto de mudar vidas?

Eu disse no início que decidi estudar inglês para passar o tempo, mas eu sempre dizia à minha esposa que, se a gente não estudasse, não iria sair do lugar. Sempre tive o pensamento de que estudar outro idioma abre muitas portas para mudar de vida e foi o que aconteceu. Eu me tornei professor, mas a fluência no inglês poderia me levar para outra área também. Eu digo aos meus alunos: “existem dois tipos de profissionais: o que se limita à sua língua materna e o que sabe outro idioma”. Não necessariamente o inglês, mas, claro, por ser a língua mais falada do mundo e “dominar” o mercado, saber inglês tem um grande peso no currículo de qualquer pessoa. Abre muitas portas.


O que o inglês significa para você?

Hoje posso dizer que o inglês é tudo, a sociedade como um todo tem aquele pensamento de que professor não é bem remunerado, mas desde que me tornei professor, tudo ficou mais fácil, inclusive o dinheiro. Ser um bom profissional, ensinar com qualidade e amor abriu muitas portas para mim. A verdade é que quando se atinge um certo nível de conhecimento na sua área você tem oportunidades de escolha, é interessante ver que o conhecimento te traz esse poder.


Foto: Isabelle Barbosa
Foto: Isabelle Barbosa


Para as pessoas que não possuem condições para investir no inglês, existe algum projeto de bolsa ou intercâmbio? Quais as alternativas viáveis?

Eu costumo dizer que hoje só não fala outro idioma quem não quer. Mesmo que você não tenha dinheiro para pagar um curso — que seria um caminho mais “fácil”, digamos assim —, pela internet existem várias opções de cursos gratuitos. Existem também projetos de bolsa para intercâmbio que as próprias universidades públicas oferecem. Eu sou professor do Estado e existe um projeto do Governo da Paraíba chamado Gira Mundo, que proporciona aos alunos do Ensino Médio a oportunidade de fazer intercâmbio em países como Canadá, Espanha, Argentina, Chile, Colômbia e Reino Unido, então, assim: só não aprende quem, de fato, não quiser.


De 211 milhões e 100 mil brasileiros, apenas 12.040 possuem o tumor referente ao Linfoma não Hodgkin na orofaringe. Como foi receber o diagnóstico de uma doença considerada rara aqui no Brasil?

Quando a médica chegou e falou pra mim: “você tem linfoma na orofaringe” e acrescentou: “é o mesmo câncer que o Gianecchini teve”, eu brinquei com ela e falei: “então esse câncer só dá em gente bonita?” Foi uma forma de quebrar o gelo e manter o bom humor. Desde o início eu não me revoltei com a doença, sabe? Eu enfrentei de cabeça erguida, nunca me revoltei com Deus, nada disso.


Foto: Nathalia França
Foto: Nathalia França


E como foi saber que era um câncer raro?

Não baixei a cabeça quando descobri que tinha um tumor raro e agressivo na garganta. Em vez disso, perguntei ao médico quais eram os próximos passos e comecei a enfrentar a situação com coragem e determinação. Eu sabia que seria difícil, mas eu tinha fé e acreditava que Deus estava comigo. Sempre fui uma pessoa perfeccionista e controladora, especialmente em meu negócio, mas, quando eu tive que me afastar 100% da empresa devido à doença, eu aprendi a confiar mais nas pessoas e a dar liberdade para elas crescerem e ironicamente foi nesse ano que a empresa mais cresceu. Isso me fez perceber que ninguém é insubstituível e que é importante preparar a equipe para o futuro. Também aprendi a pensar na sucessão e passei a preparar alguém de confiança para suceder-me. Agora, eu estou mais tranquilo e preparado para o futuro, sabendo que a empresa pode continuar sem mim. Também estou mais consciente da importância de aproveitar o tempo e de planejar o futuro, pois não sabemos o que pode acontecer amanhã.


Como você reagiu a tudo isso?

A primeira coisa que eu falei foi: “o que a gente faz agora?” Porque a doença eu já tinha, eu não fiquei lamentando, chorando, já estava comigo, então, eu só queria saber os próximos passos. Eu achava que se eu tinha que passar por aquilo era porque Deus tinha um propósito.


Foto: Nathalia França
Foto: Nathalia França


Sabemos que você é uma pessoa bastante religiosa, a fé te ajudou nesse processo? Se sim, como?

Muito. A fé foi essencial, mas não é só religiosidade, sabe? É a fé verdadeira. A fé que a Bíblia diz, que é a certeza das coisas que você não vê.


Eu tive certeza desde o início que ia dar certo. Eu sabia que ia passar. Deus me deu essa certeza.

Como foi o início do tratamento?

A primeira coisa que a médica me falou é que era raro. No Brasil, 211 milhões de habitantes, e apenas 12 mil têm esse câncer. E logo me explicaram que era um câncer agressivo, tanto que o tumor ocupa 50% da minha garganta. Se eu não tratasse, eu morreria asfixiado. Então, eu me assustei de início, senti medo, mas tive uma fé que me fortaleceu desde o início. Antes de iniciar a quimioterapia, a médica me chamou e perguntou se eu estava pronto. Eu falei: “doutora, olha só isso aqui” — aí mostrei a garganta pra ela — “isso aqui já está menor”. Ela olhou e disse: “realmente, já regrediu!” E aí eu falei: “sabe o nome disso? Fé.” E ela: “realmente, você é uma pessoa diferenciada.”


Foto: Nathalia França
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O que mudou na sua vida com esse diagnóstico?

Eu era muito perfeccionista no trabalho. Não acreditava que ninguém fazia as coisas como eu. Achava que minha empresa não funcionava sem mim. E aí, Deus me tirou totalmente do trabalho, fiquei seis meses fora e a escola cresceu mais do que nunca. Foi como se Ele dissesse: “você não é insubstituível, confie.” Isso me fez mudar, delegar mais, preparar sucessores. Hoje vejo que as pessoas conseguem fazer tão bem quanto ou até melhor que eu.


Foto: Nathalia França
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 Como foi a sua rotina durante o tratamento?

Quando a médica falou que eu não podia pegar nenhuma infecção, nenhuma gripe, eu fiquei em casa o tempo todo. Não fui a um restaurante, não fui a um culto, nada. Mas tive uma bênção: não tive nada. Nenhuma afta, nenhuma febre, nenhuma infecção. Tomei 14 comprimidos por dia. Fiz o protocolo mais agressivo de todos: R-CHOP. Quatro tipos de quimioterapia. Um na veia, outro na coluna, outro comprimido, mas enfrentei tudo com muita força.


 E como está agora?

Agora estou só esperando o resultado final. Faço um exame em maio e sabemos que para a medicina, só é considerado cura mesmo após cinco anos sem reincidência. Por enquanto, estou em remissão, o que já é uma grande vitória.


Foto: Nathalia França
Foto: Nathalia França


Alguma consequência ficou?

Sim, o tratamento afetou meu coração, fiquei com insuficiência cardíaca. Meu coração está com 44% da função, o normal seria acima de 50%, mas estou me tratando, tenho acompanhamento com cárdio oncologista e estou bem. Ainda não voltei à academia, mas vou voltar.


Qual conselho você daria para alguém que está recebendo esse diagnóstico agora?

Não desista. Qualquer que seja a sua dor, seja câncer, depressão, qualquer coisa, saiba que existe um Deus dentro de você. Tenha fé. Tudo passa. E tudo tem um propósito. A Palavra de Deus nunca volta vazia. É só crer.


Foto: Nathalia França
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EXPEDIENTE

Fotografia e produção: Isabelle Barbosa e Nathalia França

Entrevista: Isabelle Barbosa

Supervisão Editorial: Rostand Melo e Ada Guedes

1 comentário

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Fred Medeiros
há 2 dias
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Foi um honra ter sido o primeiro entrevistado dessa jornalista que está só iniciando sua jornada de sucesso. ♥️

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