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  • Ernandes Silva, Eduardo Gomes, Jackson Rodrigues

Negacionismo científico: uma arma perigosa em meio a pandemia

Atualizado: 11 de mai. de 2021

No momento em que o mundo volta todas as suas atenções para a pandemia, negar a importância da ciência para o cotidiano e o bem-estar de todos pode ser muito arriscado. Esta situação se agrava no Brasil, epicentro das mortes por COVID-19 na América Latina, que vive uma onda massiva de desinformação e invalidação do conhecimento científico.


Negação da ciência em escala global

Há uma crescente onda de grupos em todo o mundo que insiste em negar as informações obtidas pelos estudos científicos. Vão desde o questionamento dos métodos utilizados por institutos de pesquisa até a oposição às leis científicas. O ato de questionar a ciência não é o foco do problema, mas é na tentativa de desqualificar estudos rigorosos, com procedimentos rudimentares de pesquisa e superficialidade teórica, que se encontramos alguns impasses.



Sobram exemplos desse fenômeno, como é o caso dos terraplanistas. São indivíduos que estão dispostos a contrariar os estudos seculares e as evidências científicas – que provam que a Terra tem formato geoide – para mostrar que o seu formato é plano. Também é o caso das pessoas que se opõem à existência da ação humana no aquecimento global. Sabe-se que as motivações de grande parte destes grupos extrapolam o conhecimento científico: interesses econômicos, contexto social e político são apenas algumas delas.


Durante o atual cenário pandêmico, no qual as pessoas aguardam ansiosas por uma vacina eficaz contra a COVID-19, outro movimento pseudocientífico ainda mais perigoso tem ganhado forças, inclusive no Brasil. Trata-se do movimento antivacina que sugere que o processo de imunização por vacina causaria mal à saúde. Por outro lado, os estudiosos tentam entender quais são as motivações que estas pessoas possuem para defender tais posicionamentos e, assim, traçar estratégias de combate à desinformação para a manutenção do bem-estar da população.



Compreendendo as motivações

Um estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), publicado na revista científica Social and Organization Psichology e realizado durante o ano de 2019, com 383 estudantes universitários paraibanos, buscou compreender como ocorre o entendimento acerca das teorias conspiratórias que, segundo os autores, tende a reduzir a complexidade da realidade e apresentam discursos alternativos às evidências proporcionadas pela ciência.


É importante ressaltar dois resultados obtidos nesta pesquisa. Ela aponta que os estudantes entendem que algumas das teorias conspiratórias ocorre através da existência de forças secretas dentro das indústrias e de laboratórios que têm a intenção de produzir enfermidades, em vez de curá-las. O trabalho também aponta que o grupo analisado entende que tais teorias auxiliam na melhor compreensão de suas realidades sociais através de "explicações leigas e especulativas."


Os pesquisadores também concluíram que a ideia de que o grupo estudado converge para a crença de que as teorias da conspiração têm o objetivo de “controlar, influenciar as informações fornecidas pela mídia, disseminar versões convenientes de acontecimentos de difícil explicação ou que favoreçam explicações especulativas”.



É nesta perspectiva conspiratória que emerge a compreensão da pseudociência em detrimento do saber científico. Ao observar a percepção dos estudantes paraibanos nesse estudo, é possível confrontá-la com as notícias diárias que correm nos veículos locais de imprensa paraibana que traz, exaustivamente, a realidade de desrespeito às medidas de combate à COVID-19.


Ainda que hajam esforços no combate à COVID-19, como o reforço orçamentário ao setor de Saúde, como as orientações de distanciamento social e outras medidas preventivas propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo governo local, a população cede às informações de fácil entendimento: memes, frases curtas que se mostram verdadeiros chamarizes para a apreensão de informações duvidosas que dificultam ainda mais o combate eficaz à pandemia.


O vírus da desinformação


Um estudo publicado esse ano pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp-FIOCRUZ) mostra que as fake news acerca do coronavírus mais populares no Brasil são veiculadas pelo Instagram (10,5%), Facebook (15,8%) e, liderando o ranking, há o WhatsApp, com 73,7%.


Outro estudo, também desenvolvido pela FIOCRUZ, aponta que 24,6% das fake news afirmam que a COVID-19 é uma estratégia política. Já 10,1% sugerem a defesa do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina sem comprovação de eficácia científica para a cura da doença.

Cabe lembrar que esta rede de informações falsas tem sido incentivada por indivíduos adeptos às falas do Presidente da República Jair Bolsonaro. Ele defende abertamente o uso de tais métodos para o tratamento da COVID-19. Assim como o seu filho, o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro, que recentemente culpou a China pela pandemia e provocou reações da embaixada chinesa. Estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos de figuras públicas brasileiras que estimulam práticas de negação do saber científico sem se importar com os efeitos que essas atitudes possam repercutir.


Desse modo, a fala de lideranças políticas que endossam crenças pseudocientíficas ou que se opõem ao saber científico faz com que a população sinta a falsa impressão de segurança, reduzindo os cuidados preventivos e expondo pessoas aos riscos de contaminação. Esta realidade, intensificada pelo descrédito científico tem sido experimentada desde o início da pandemia fazendo com que o país ultrapassasse a marca de mais de quatro milhões de contaminados por COVID-19.

 

FICHA TÉCNICA:

Fotografias: Jackson Rodrigues, Ernandes Silva

Pós-produção: Eduardo Gomes

Redação: Eduardo Gomes, Jackson Rodrigues

Revisão: Ernandes Silva

Monitoria: Andresa Costa

Supervisão editorial:Rostand Melo


*Fotoilustrações na pandemia:

O Coletivo F8 optou por produzir matérias do gênero “ilustrações fotográficas” durante a pandemia como forma de manter a produção dos estudantes de fotojornalismo da UEPB respeitando os protocolos de distanciamento social. As fotoilustrações permitem ao fotógrafo criar uma cena com o objetivo de representar visualmente um tema ou pauta. O uso de objetos, cenários e, em alguns casos, edição de imagens é comum neste gênero.


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