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Ariel: uma história de esperança e representatividade

  • Foto do escritor: MARTA REGINA PAIVA DOS ANJOS
    MARTA REGINA PAIVA DOS ANJOS
  • 21 de mar.
  • 6 min de leitura

O live action de 2023 é uma nova forma de contar o clássico.


Foto: Taynara Costa
Foto: Taynara Costa

O filme A Pequena Sereia teve a sua primeira versão lançada em 1989. Baseado no conto original do autor dinamarquês Hans Christian Andersen, a animação se consagrou por salvar a Disney da falência após a morte do seu fundador Walt Disney, levando a empresa para uma nova era de filmes e sucessos músicas chamada pelos fãs de “Renascença”.

"Pela primeira vez eles estavam abertamente focados num público para toda a família e não só para criança, chegando a fazer para ‘A Pequena Sereia’ uma exibição teste só com adultos à noite também pra ver como que ia ser a reação. Então realmente ‘A Pequena Sereia’ é um dos filmes mais importantes da Disney pois ele quem abriu o caminho para tudo de bom que veio depois com ‘Aladdin’, ‘O Rei Leão’ e ‘A Bela e a Fera’.” Fala Fernanda Shimulz, jornalista e influenciadora que fala sobre a Disney na internet.

A animação, que é representada por uma sereia branca com cabelos ruivos e uma cauda verde, conta a história de amor de Ariel, que sonha em conhecer a superfície, com o príncipe Eric que aspira conhecer novos mares. A Disney escolheu essa história para ser recontada agora em live action, na onda de remakes realistas que a empresa está fazendo, escolhendo uma atriz negra, a Halle Bailey, para dar vida a protagonista, sendo um acontecimento histórico pois é a primeira vez que a personagem é retratada como não branca em uma mídia de grande alcance.


A EVOLUÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE NEGRA NO CINEMA

Foto: Marta Paiva
Foto: Marta Paiva

Quando se observa a trajetória da representatividade negra na história do cinema, é extremamente perceptível o nível de desigualdade que existiu, e existe, ainda que de forma mascarada, na indústria cinematográfica. Os negros sempre ocupavam papéis secundários, e por vezes não ocupavam sequer esse papel. Leis, como das segregações, faziam com que os grandes estúdios se recusassem a produzir filmes com atores negros, por receio de serem barrados nos cinemas e não obterem lucro. No entanto, se precisavam de personagens negros, e como opção, utilizava-se o que denominamos de blackface, (maquiagem escura para imitar o tom de pele negro, por parte de atores brancos).


Contudo, após anos exaustivos de lutas, e movimentos negros, começou-se a cobrar esse papel principal em produções artísticas, como filmes e séries, e depois de um longo percurso, tivemos em 2018 o lançamento do longa da Marvel, Pantera Negra, interpretado pelo ator Chadwick Boseman, sendo ele o primeiro super-herói negro a receber um filme exclusivo. Ainda que houvesse alguns outros filmes interpretados por atores e atrizes negros, Pantera Negra foi extremamente necessário pois marcou uma nova fase desse protagonismo, onde os negros saem do lugar do sofrimento, e ocupam um lugar de honra e destaque na sociedade.


Depois deste, outros filmes com protagonistas negros foram lançados, dentre eles, o já apresentado anteriormente A Pequena Sereia- Live Action, lançado recentemente e que já foi alvo de muitas discussões. Entretanto, mesmo com esse “crescimento”, ainda não se chegou ao total reconhecimento da classe negra no meio artístico. Em entrevista com o doutor em história, Fabio Mob, ele explica que apesar de ter tido um aumento nos últimos anos de homens e mulheres negros no meio cinematográfico, eles ainda são minoria, e ocupam apenas 19,8% em uma indústria repleta de pessoas brancas.


O CENÁRIO DE CRÍTICAS CAUSADOS PELA MUDANÇA


Foto: Marta Paiva
Foto: Marta Paiva

Mesmo a atriz escolhida para o papel de Ariel, Halle Bailey, mostrando seu talento através do canto e atuação, infelizmente, ela sofreu com uma forte desaprovação de uma parte do público que não a aprovaram pelo seu tom de pele.


O primeiro teaser do filme chegou a bater um milhão de dislikes no YouTube e várias pessoas começaram a campanha de “Not my Ariel” (não é minha Ariel) afirmando que a Halle não pode ser a personagem pois “a Ariel é uma personagem icônica justamente pelo seu tom de pele claro e seus cabelos vermelhos” como diz a influencer e fã da Disney Lory Cortês:


"O pessoal acha que a internet é uma terra sem lei, então simplesmente vão lá falam o que querem e não estão nem aí. É horrível que a gente tenha que passar por isso, mas é uma briga que a gente tem que comprar."

O cineasta formado em direito Cesário Correia, tenta explicar o ódio dessas pessoas pela escalação de Halle descrevendo que desde a Roma antiga, os seres humanos são formatados a valorizar o espaço e o poder que eles têm. Ele também explica que os ataques racistas aos protagonistas negros tem raízes nessa formação, ele ainda completa “[...] para justificar a dominação de um grupo sobre o outro, a sociedade vai ultilizar diversas construções, uma delas é o racismo.”


OS VÁRIOS SUCESSOS DO FILME

Apesar dos vários ataques de ódio que a Halle Bailey e o filme sofreram, ainda sim, A Pequena Sereia- Live Action tem tido um desempenho muito bom. Atualmente o filme já arrecadou mais de US$ 500 milhões nas bilheterias mundiais, e no site “Rotten Tomates” (um dos maiores sites de crítica da atualidade) ele está com 67% de aprovação pelos críticos e 94% pelo público, com números podendo aumentar ou abaixar com o tempo. Por falar em público, o mesmo está considerando esse filme de 2023 o melhor remake live action feito pela Disney, principalmente os fãs da animação clássica de 1998 que destacaram principalmente Halle como principal fator para esse sucesso.

“Ao vê-la como Ariel me senti extremamente feliz já que a atriz consegue transmitir a exata mesma essência da personagem da animação” fala o Matheus do Rio de Janeiro que tem a Ariel como princesa favorita. “Como fã da animação e esperando há 7 anos o live action, eu me senti muito realizada, eu amei a fidelidade e as pequenas mudanças em algumas nuances do filme” Fala Nicoly de São Paulo capital. “O principal destaque é a própria Halle que brilhou como Ariel e sinceramente ninguém poderia ter sido uma Ariel melhor para esse live action do que ela.” Fala Laura também do estado do Rio de Janeiro.


Mas o outro grande sucesso do filme tem sido a representatividade que ele carrega, servido como inspiração para as futuras gerações de crianças negras. Ao sair o primeiro teaser, as reações de várias meninas negras vendo a Ariel pela primeira vez emocionou a internet. “Eu falei para ela que ela é uma inspiração e ela vai ser uma inspiração agora e para as próximas gerações e ela se emocionou, caiu uma lágrima do olho dela e ela falou ‘meu Deus eu vou chorar’. Então dá para ver que realmente isso é uma coisa que toca muito ela e que marcou a vivência dela ", diz a dubladora Laura Castro, que dubla a Ariel nesse novo filme, no encontro que ela teve com a atriz Halle Bailey no México.

“É um marco muito grande a Disney trazer uma releitura, não criar uma princesa preta, mas criar uma releitura de uma princesa que era branca e agora preta é uma coisa muito poderosa. Mostra para as crianças que ela também pode ser preta, ela também pode ser branca, mas ela também pode ser preta. E para as crianças pretas, já desde pequena já ver esse tipo de representatividade, eu acho que é um processo de cura muito grande e espero que cada vez mais próximas gerações não seja mais um processo” completa Laura Castro, que termina a entrevista falando que vem recebendo mensagens de pessoas relatando o quanto a Ariel ser negra foi especial para elas “Pessoas de diferentes partes do Brasil conversando comigo e falando que emocionou muito, elas são pessoas adultas também então voltaram para infância e tipo é um processo de cura para elas”.

O fato é que, chegou o momento dos fãs darem um significado mais profundo ao termo “Renascença” e entenderem que a valorização do que é clássico é importante, mas que é necessário abrir espaço para nova maneira de fazer e contar os clássicos. Então, independente do ódio, o filme de Pequena Sereia- Live Action de 2023 conseguiu cumprir um papel de algo muito importante e histórico no cinema.



FICHA TÉCNICA:

Texto: Evellyn Alessandra, Guilherme Barbosa, Marta Paiva, Taynara Costa.

Monitora: Isabella Silva e Vitória Félix

Supervisão editorial: Ada Guedes e Rostand Melo

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21 mar
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Incrível!

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