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Teatro em Campina Grande: Qual a cena atual para os jovens atores?

  • eduardamaria39570
  • 26 de mar.
  • 6 min de leitura
Foto: Geyferson Guilherme
Foto: Geyferson Guilherme

Segunda maior cidade da Paraíba, Campina Grande respira e transpira arte e cultura. Palco do maior São João do Mundo e símbolo de raízes nordestinas, a Rainha da Borborema possui uma ligação forte com diferentes expressões artísticas, sendo o teatro uma delas.


Data de 1963 a inauguração do Teatro Municipal Severino Cabral, mas outros palcos compõem o cenário de atuação que tem ao longo dos anos, revelando variados talentos. São artistas formados em categorias como direção de arte, direção de cena, atuação, roteirização, tornando esse um espaço de busca para pessoas que querem seguir carreira artística.


Entretanto, o teatro segue entre o prestígio e apreciação de um público que é seleto, ou pelo menos não é tão vasto. Alternando tempos áureos com períodos de poucas produções, Campina Grande continua sendo uma referência para muitos jovens paraibanos que estão a buscar sua oportunidade na cena teatral.


Cursos são ministrados pela cidade e a cada ensaio, os aspirantes a atores, se veem mais perto de oportunidades, não obstante à dificuldades, que por vezes vem substituir os aplausos almejados.


Foto: Eduarda Oliveira
Foto: Eduarda Oliveira

Ensinamento e reconhecimento


Ser ator ou atriz requer formação, conhecimento teórico e técnico da arte de atuar. O caminho é fazer cursos específicos de formação de atores. Pattrícia de Aquino é atriz, diretora paraibana e professora de atuação com mais de 20 anos de experiência. Ministra aulas em Campina Grande com turmas para adolescentes e adultos e relata que já chegou a ensinar a mais de 200 pessoas. O que revela que há uma procura pelos cursos.


Por trabalhar em diversas áreas do fazer artístico teatral ela destaca as dificuldades que o teatro enfrenta na atualidade e reforça como as principais: o pouco incentivo e a falta de reconhecimento dos artistas locais. Ressalta que falta acessibilidade para que as pessoas conheçam o teatro e criem o hábito de prestigiar as peças ofertadas na cidade. A professora ainda ressalta a dificuldade de manter peças em cartaz na cidade, seja pela falta de patrocínio ou pela escassez de público.


Quantos espetáculos dos artistas campinenses a gente vê no palco de Campina Grande? Poucos, e quando tem é com muito sofrimento, é com muita luta para a gente conseguir. E não é ficar em temporada, no máximo apresentar um final de semana, sábado e domingo porque não há esse hábito de ter temporada.”

Cortina fechada para o sonho


O desejo de estrear acompanha os atores ao longo de toda a sua trajetória, seja pelo sonho que alimentam desde a infância, ou pelo tempo de convivência nos palcos. Mas uma coisa é comum para todos eles: as dificuldades em concretizar esse objetivo. A aluna de teatro, Ana Catarina, que teve o sonho de atuar desde a infância, e poder viver de sua arte, enfatiza as dificuldades que ainda existem para poder concretizar tal objetivo.


Falta muita coisa em Campina Grande, a começar por um curso profissionalizante, nós só temos cursos livres, sejam gratuitos ou pagos”, avalia.


Essas dificuldades se expressam na falta de oportunidade no ramo, o pouco incentivo e mesmo reconhecimento do papel criativo e reflexivo da arte. E o final é quase sempre o mesmo: muitos jovens desistem de seu sonho pois não veem uma chance de viver disso no futuro. Muitos jovens que atuam na área acabam tendo outras atividades profissionais, pela falta de oportunidades contínuas.


A também atriz e produtora cultural campinense, Sarah Cristine, fala sobre essa dificuldade que atores iniciantes e experientes enfrentam na cidade:


“Não tem como você se manter sendo apenas ator de teatro em Campina Grande, então a gente tem uma atriz que é professora; uma atriz que trabalha com comércio. Então acaba que o teatro vai virar um hobby, não uma profissão, porque eles não vão manter sempre e é preciso fazer outras coisas para se manter.”

Sarah Cristine: atriz e produtora teatral campinense.  Foto: Geyferson Guilherme
Sarah Cristine: atriz e produtora teatral campinense. Foto: Geyferson Guilherme

Do interior do estado para os palcos Brasil afora


A jornada de jovens atores do interior do estado para os palcos da cidade grande muitas vezes se inicia com desafios singulares. A falta de infraestrutura cultural em algumas localidades remotas pode limitar o acesso a aulas de teatro, oficinas e workshops. No entanto, é a resiliência diante dessas adversidades que molda o caráter desses jovens, transformando suas experiências em inspiração.


Antes de se tornar professora e atriz renomada, Pattrícia superou obstáculos em sua jornada. Aos 18 anos, saiu de São Domingos do Cariri para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades, já que na Paraíba não havia espaço para aprender sobre a arte. Hoje, ministra aulas em Campina Grande, proporcionando aos jovens a oportunidade que ela mesma buscou intensamente em sua época de estudo.


Luis Augusto, é outro exemplo. Ator e natural da cidade de Serra Branca, também no cariri do estado, como outros jovens viu seu sonho pela atuação surgir desde cedo, mas sem oportunidades em sua cidade e sem condições de se mudar, decidiu que iria aprender sozinho e construir suas próprias oportunidades. Anos depois, conseguiu participar de um curso presencial em Campina Grande, e atualmente, além de atuar em peças na cidade, o jovem também é criador e ator do grupo de teatro de sua cidade natal, “Casa dos Atores”, companhia atualmente reconhecida entre a população local.


“Fazer teatro não é só estar dentro do teatro, com o palco italiano como a gente tá acostumado, o fazer teatro é fazer o que a gente acabou de fazer, não importa aonde, não importa a hora, não importa para quem. Dar vida a outra pessoa não é uma coisa fácil, é um trabalho muito difícil”.

Mas o ator ressalta que mesmo com o reconhecimento e o crescimento da companhia teatral ao longo dos anos, ainda é difícil obter sucesso e viver financeiramente da arte. Ressalta que a falta de valorização não acontece apenas em a cidades pequenas, mas sim no país inteiro.


Foto: Eduarda Oliveira
Foto: Eduarda Oliveira

Leis e incentivos são o suficiente?


Atualmente, a constituição brasileira conta com diversas leis que incentivam o consumo e a prática de cultura no Brasil, contando com leis específicas que buscam auxiliar na democratização do acesso direto à arte.


Entre as que possuem mais visibilidade para a atuação, estão as leis Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195, de 08 de julho de 2022), Aldir Blanc (Lei Federal nº 14.017/2020) e Cultura Viva (Lei nº 13.018, de 22 de julho de 2014); todas como mecanismo de fomentar a cultura no país. Estas são citadas por atores e produtores, por, atualmente, darem uma contribuição maior do que as leis anteriores faziam.


Entretanto, as leis e subsídios atuais surgem de um contexto emergencial e foram pensadas como um incentivo e não são o suficiente para sustentar os espetáculos e principalmente manter os artistas. Luís Augusto, que teve projeto contemplado em edital de lei de fomento à cultura, conta sobre as dificuldades que ainda são enfrentadas mesmo com o subsídio federal, e que as leis deveriam proporcionar uma atenção maior ao teatro.


“Eu acho que o teatro é muito esquecido, agora com leis como a Aldir Blanc e a Paulo Gustavo, é que se vê um espaço, mas é um dinheiro muito sofrido pra um trabalho muito grande. Porque pensa ensaiar durante três, quatro meses para ganhar algo que não dá para pagar as contas de todos esses meses”.

Foto: Geyferson Guilherme
Foto: Geyferson Guilherme

A marginalização e o desejo do reconhecimento


Mesmo com todos empecilhos e dificuldades, todos os atores possuem um desejo em comum e uma vontade única: o reconhecimento de seu trabalho. Essa busca é ainda mais desafiadora em um contexto no qual a profissão de ator ou atriz muitas vezes não é levada a sério, sendo erroneamente estigmatizada, percebida pelas pessoas como um hobby. Infelizmente, a marginalização não se limita apenas à falta de visibilidade e apoio institucional, mas também se manifesta na percepção distorcida da sociedade em relação à profissão artística.


Sarah, atriz e produtora cultural campinense, compartilhou uma perspectiva reveladora sobre essa realidade. Ao chegar em lugares, ela hesita em se identificar como atriz imediatamente. Em vez disso, se apresenta como jornalista cultural e produtora, pois experimenta o estigma associado à profissão artística. Essa estratégia revela a necessidade de contornar preconceitos arraigados, especialmente quando a concepção tradicional de sucesso na carreira artística muitas vezes está vinculada à fama.


Esse processo de marginalização não apenas compromete o desenvolvimento profissional dos artistas, mas também afeta sua autoestima e confiança na busca por seus objetivos. Muitas mudanças precisam acontecer para que as cortinas possam se abrir e os devidos aplausos possam alcançar aqueles que são capazes de proporcionar alegrias, comoção, ensinamentos, reflexão, percepção crítica, transcendência, superação, experiências, conhecimento, evolução. Quanto custa tudo isso? Mensurar é difícil, mas reconhecer é preciso.


Confira abaixo mais algumas fotos:



EXPEDIENTE:

Monitoria: Felipe Bezerra

Supervisão editorial: Ada Guedes


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