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Entre fogueiras e histórias: o São João de Campina para quem vive a festa

  • Foto do escritor: Coletivo F8
    Coletivo F8
  • 2 de jul.
  • 3 min de leitura

Memórias afetivas de um evento que ultrapassa o rótulo de festa e se revela como expressão viva da identidade nordestina.


Foto: Beatriz Morais
Foto: Beatriz Morais

No compasso do triângulo e ao som do chiado da panela preparando a pamonha, o São João de Campina Grande se anuncia muito antes das bandeirinhas colorirem o céu da cidade. É na memória e nos preparativos ansiosos que a maior festa junina do Nordeste começa a pulsar. Para quem vive, trabalha e sonha dentro desse arraial gigante, o São João é mais do que tradição: é identidade, resistência e afeto.


A artista Stella Aves, natural de Desterro, no sertão paraibano, conhece bem essa emoção. Desde que chegou a Campina Grande, viu na festa junina uma ponte entre o sonho de infância e a concretização de uma carreira artística.


“Foi onde portas se abriram, me acolheram como artista e me permitiram seguir na carreira”

Foto: Beatriz Morais
Foto: Beatriz Morais

Seu laço com o São João não é feito apenas de palcos e microfones, mas de entrega e conexão com o público. A gravação de um DVD em 2017 e a conquista do quarto lugar no programa Revelações Brasil, da TV Aparecida, são marcos em sua trajetória. “A preparação é intensa, mas a troca de energia com o público é o que alimenta tudo. O São João transforma vidas”, afirma.


E transforma mesmo. Aos 14 anos, Heloísa Araújo pisou pela primeira vez no Parque do Povo em 2014. Veio com a família de Pernambuco, em clima de festa, e se encantou com o show de Zé Ramalho, especialmente ao ouvir a canção Frevo Mulher, que suscitou memórias afetivas junto ao pai. Hoje, adulta, ela segue firme na tradição: faz pamonha, acende a fogueira e junta todos em casa para reviver o que aprendeu a amar. Observa, com um pouco de saudade, as mudanças no cenário musical da festa, antes dominado pelo forró pé de serra, agora mais plural com nomes como Alok e Joelma.


Ainda assim, acredita que o espírito do São João resiste naquilo que não se compra: o calor humano, o cheiro da comida típica e o sorriso compartilhado.

Foto: Beatriz Morais
Foto: Beatriz Morais

Mas há também quem viva o São João no corre-corre dos bastidores. Desde 2021, o quiosque Gummy Beer é comandado por Thiago Costa Bandeira que vê na festa o auge do ano — e não só no faturamento. “A renda ajuda a sustentar seis pessoas. É uma alegria trabalhar nesse ambiente leve e cheio de vida”, conta. O quiosque, que tem 16 anos de história, virou ponto de encontro e espaço afetivo. Todos os anos, no último dia, ele fecha mais cedo para celebrar com amigos e clientes fiéis durante a queima de fogos.


“Ver as mesmas pessoas voltando, lembrando da gente, é o mais emocionante. Criamos vínculos que vão além da venda.”

Foto: Beatriz Morais
Foto: Beatriz Morais

Para entender como tudo isso se costura na história de Campina Grande, o historiador e professor Antônio Clarindo afirma que a transformação é evidente: “De uma celebração familiar e espontânea nos anos 1980, passamos a um evento de massa nos anos 1990. Hoje, o São João é um grande produto comercial”. Ele reconhece o valor turístico do título de “Maior São João do Mundo”, mas alerta:


“É uma reinvenção da tradição. A espontaneidade deu lugar a um lazer programado. Ainda há resistência cultural, mas precisamos refletir sobre o equilíbrio entre espetáculo e raiz”.

Foto: Beatriz Morais
Foto: Beatriz Morais

E talvez esse equilíbrio esteja justamente nas pessoas, nos artistas que sonham em constar na programação; nos frequentadores que carregam consigo expectativa e lembranças; e nos trabalhadores que, com muito trabalho, alimentam a alma da festa. O São João de Campina Grande hoje é sim um grande evento, foca no turista e em grande público, mas é também um mosaico de histórias, uma colcha de retalhos bordada com suor, forró e afeto.


Sim, é fato que as celebrações espontâneas de bairros, os concursos de quadrilhas, e o forró pé-de-serra com seus famosos trios, cederam lugar ao grande pavilhão que é o Parque do Povo, projeto que teve início na década de 1980 e se constituiu num espaço urbano com estrutura moderna, com ares de festival e capacidade de público diverso.


Foto: Beatriz Morais
Foto: Beatriz Morais

Mas, a transformação faz parte do processo e o São João considerado “o maior do mundo”, agrada a muitos e preserva memórias afetivas, transformações culturais e histórias de vida. É mais do que um evento festivo, é um palco onde se entrelaçam tradição e modernidade, emoção e identidade. Seja no brilho dos olhos de quem dança no terreiro do forró, na dedicação de quem trabalha nos bastidores ou na voz de quem encontra na festa um caminho para os próprios sonhos.


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Expediente:

Fotografia: Beatriz Morais, Nathália França, Maria Vitória e Paloma de Souza

Reportagem: Beatriz Morais, Nathália França, Maria Vitória e Paloma de Souza

Supervisão Editorial: Rostand Melo e Ada Guedes

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