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Matinhas: Terra da Laranja, mas também da Cultura e da Tradição

  • coletivof8noite
  • 14 de jul.
  • 4 min de leitura


Foto: Givanilda Lourenço
Foto: Givanilda Lourenço

Localizada a aproximadamente 147 km da capital João Pessoa, a cidade paraibana Matinhas destaca-se como a maior produtora de tangerina do Nordeste, o que lhe rendeu a alcunha de “Terra da Laranja”. Ao longo de uma história de pouco mais de 30 anos de emancipação política, os produtores rurais de Matinhas encontraram na fruta que resiste à estiagem, seu símbolo de maior pertencimento e desenvolvimento.


De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relatório de 2022, Matinhas é a maior produtora de tangerina no Nordeste, com previsão de colher mais de 70 toneladas da fruta por ano. O município possui atualmente uma população de aproximadamente 4,5 mil pessoas, segundo dados do censo 2022.


A produção de tangerina no município ocorre majoritariamente em pequenas propriedades rurais, com média de 1,5 hectare por família. Cultivada com mão de obra essencialmente familiar, essa atividade se encaixa nos critérios da agricultura de base familiar, já que as propriedades têm menos de quatro módulos fiscais.


Um dos principais mecanismos de apoio à produção de tangerina em Matinhas é o PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar), que oferece linhas de crédito voltadas para o custeio e o investimento na atividade. O cultivo é marcado por práticas rudimentares, principalmente no que diz respeito à mecanização, dificultada pela topografia acidentada da região.


Com base em princípios agroecológicos, a produção segue métodos mais sustentáveis. Nesse contexto, a EMPAER ( Empresa Paraibana de Pesquisa e Extensão Rural e Regularização Fundiária) tem atuado buscando implementar, mesmo com desafios, os tratos culturais recomendados para melhorar a produtividade e conservar os recursos naturais.


Entre 2012 e 2016, uma forte estiagem comprometeu seriamente a produção, resultando na perda de cerca de 40% dos pomares. Nos últimos anos, porém, os agricultores vêm repondo esse déficit de forma gradual, retomando aos poucos o volume produtivo que sustenta grande parte da economia local.


Potência agrícola que fortalece a economia local


Foto: Tiago Rodrigues
Foto: Tiago Rodrigues

O casal Ademar José de Freitas e Margarete Cabral de Freitas, produtores rurais do Sítio Cosmo da Rocha, compartilham com orgulho a importância do cultivo da laranja para sua família e para a economia local. Entendem a prática como um legado familiar, fruto da sabedoria dos antigos agricultores, que transmitiram o conhecimento de geração em geração.

 

Margarete relata: “Somos filhos de agricultores e herdamos deles a prática do cultivo da laranja, que é a base da nossa economia e garante o sustento digno e a educação dos nossos filhos. Lembro, com muito orgulho, que meu pai chegou a vender mais de um milhão de milheiros de laranja, que eram levados em caminhões para Campina Grande, João Pessoa, Natal, Recife e Fortaleza, quando tudo ainda era vendido por milheiro, não por caixa”.


Ela destaca que a produção tem fluxo constante, principalmente para Campina Grande, a maior compradora da fruta. Para ela, Matinhas é uma terra de riquezas que busca crescer e levar sua economia para além do Nordeste. Ela acredita que a atitude positiva faz a diferença na vida dos agricultores, que seguem com o lema: “Fé, foco e força.  


O agricultor e presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), Tiago Rodrigues Terto, também enfatiza a relevância da agricultura familiar para o desenvolvimento econômico do município.


Tiago ressalta que o Conselho tem atuado junto aos agricultores, com o apoio da Prefeitura, do Governo do Estado, da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desenvolvendo ações coordenadas para estimular a produção, oferecer assistência técnica, pesquisa, extensão rural e promover a regularização fundiária.


Em meio ao pomar, as laranjas seguem em formação. Foto: Givanilda Lourenço
Em meio ao pomar, as laranjas seguem em formação. Foto: Givanilda Lourenço

Da economia local ao turismo regional


Matinhas também transforma essa vocação agrícola em potência turística e cultural por meio de eventos como a Festa da Laranja e a participação na Rota Cultural Caminhos do Frio.


Criada oficialmente entre 2002 e 2003, com sua primeira edição como Festival em 2004, a Festa da Laranja se consolidou como um dos maiores festivais do interior paraibano. Com shows de artistas de renome nacional e uma programação técnica que envolve seminários em parceria com a UFPB (Universidade Federal da Paraíba), especialmente o campi das cidades de Areia e Bananeiras, o evento celebra a produção agrícola, o conhecimento e a inovação no campo.

 

Wilker Muniz, secretário municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Juventude, explica que o destaque da cidade se deve tanto ao solo fértil quanto ao envolvimento da população.


“A tangerina resiste à seca e garante renda e a Festa da Laranja veio justamente para valorizar nosso ouro: o fruto que sustenta nossa economia e fortalece nossa identidade e, porque não dizer, nossa cultura.”

 

Caminhos do frio

Já a Rota Cultural Caminhos do Frio, chegou em Matinhas em 2015, inserindo o município no no calendário turístico da região. Oferecendo durante sete dias uma programação que une música gastronomia, tradições populares e debates sobre desenvolvimento local. "A rota nos deu ainda mais visibilidade e orgulho. Hoje, o povo de Matinhas vive esses eventos com carinho e participação ativa”, afirma Muniz.


 A Rota Cultural Caminhos do Frio começou em 30 de junho com uma programação que inclui 10 cidades do brejo paraibano. Matinhas é a terceira cidade a sediar o evento, o que ocorrerá no município de 14 a 20 de julho com programação especial incluindo gastronomia regional, artesanato típico, shows musicais e outras atividades voltadas à valorização da cultura local.


Matinhas conta com a pousada Fulô de Tangerina, fundada em 2024, que fica a 3km da cidade e surgiu justamente para atender os turistas que visitam o município durante os eventos culturais.



Cultura que Gera Renda


Os eventos culturais também geram oportunidade para artesãos e comerciantes locais. Durante esse período, restaurantes, pousadas e feiras de artesanato recebem mais visitantes, valorizando a cultura e movimentando a renda das famílias. 


Valdilene Ferreira, professora de artesanato há 10 anos, ministra oficinas de tear de pregos para mulheres há quatro anos e fala sobre orgulho e gratidão, pois é através dessas oficinas que mulheres ganham uma renda extra alcançando e independência financeira. E é em eventos como a Festa da Laranja e a Rota Caminhos do Frio que os artesãos divulgam e comercializam seus trabalhos.


O ofício aprendido com a mãe compreende a tecelagem e resulta em produção de tapetes, bolsas e almofadas em sua residência. Valdilene fala com orgulho que estão participando pela terceira vez do Salão de Artesanato, em Campina Grande, evento que segundo ela, “nos dá a oportunidade de mostrar nosso trabalho e vender nossas peças para pessoas do mundo inteiro.”


Já Roberto Vieira de Oliveira, proprietário do Restaurante “Bar do Peixe” há mais de 20 anos, destaca a importância de eventos como a Festa da Laranja e a Rota Caminhos do Frio para a economia local. “Aumenta a demanda. Com a cidade em festa, recebemos muitos clientes novos. Nossa participação é constante e estamos sempre preparados para atender todos os turistas que vêm até a cidade em busca de uma culinária regional e caseira”.


Além da Rota Cultural Caminhos do Frio, Matinhas promoverá em outubro o 18º Festival Nacional da Tangerina, também conhecido como Festa da Laranja, consolidando duas importantesoportunidades para conhecer e vivenciar os sabores, o clima, a cultura e as tradições da região do brejo paraibano.


Confira mais imagens no slideshow:


EXPIDIENTE:

Reportagem: Givanilda Lourenço

Redação e fotografia: Claudinês Araújo, Givanilda Lourenço

Supervisão editorial: Rostand Melo e Ada Guedes 

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