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  • Luana Lima e Vitória Soares

Retratos on-line: A fotografia remota no olhar de Jorge Bispo


Crédito: Jorge Bispo

Em março deste ano, 2020, o país embarcou no isolamento social, por causa da Covid-19. Afetando não só o convívio, mas também empresas e comerciantes. Para os entusiastas da fotografia não foi diferente, a foto remota se tornou uma alternativa para os fotógrafos que usam a tecnologia para realizar os “cliques”, através de aplicativos como o Facetime. Mas, que também, infelizmente, restringe alguns usuários por se tratar de um aplicativo disponível apenas para aparelhos iOS.


A exemplo disso um dos trabalhos mais conhecidos no Brasil é do retratista carioca, Jorge Bispo. Segundo entrevista dada ao “Panorama Mercantil”, Bispo (como gosta de ser chamado) é formado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Produziu além dos retratos, ensaios e fotografias de moda para publicações como Vogue Brasil, Playboy Brasil, Trip, TPM, Vip, Homem Vogue, Sexy, e assinou diversas campanhas publicitárias.


“Queria ser ator e de certa maneira isso é estar do outro lado. Mas desde que me dedico a fotografia evito totalmente estar do outro lado. Sou muito tímido. Engraçado é que de certa forma quando você é reconhecido pelo seu trabalho, as pessoas tentam te levar para o outro lado, como essa entrevista, por exemplo! [Risos.]

E o fotógrafo revela que a repercussão não é seu principal objetivo. "Além de convites para outras entrevistas, matérias, talk shows e reality shows. Mas sinceramente essa parte do prestígio não me interessa. (…) Quando o jogo é duro você tem que jogar melhor que o oponente”, afirma o fotógrafo em entrevista para o "Panorama Mercantil".


A série de ensaios fotográficos realizados por Jorge Bispo é nomeada Retratos online, se trata de um projeto feito a distância, por vídeos chamadas, mais especificamente pelo aplicativo Facetime, devido às circunstâncias atuais que se encontra o mundo, em meio a pandemia. A foto remota se tornou uma alternativa para o fotógrafo retratista que usa da tecnologia para realizar seus “cliques”, com objetivo de enaltecer a campanha do “fique em casa”, demonstrando apoio ao isolamento social.

Procurado pelo Correio Braziliense, que fez um apanhado dos nomes que utilizam da alternativa remota, Bispo, conhecido por fotografar celebridades, conta que sempre fez prints ou fotos por Facetime de amigos e parentes, apenas como registro afetivo.


“Com a pandemia isso se tornou mais frequente com os amigos, até o dia que me vi dirigindo as fotos e pensei: Vou organizar isso e pensar um retrato”, conta. De forma orgânica passou a clicar amigos, colegas de trabalho até passar a receber pedidos e encomendas profissionais de marcas e artistas.


“Mais do que nunca, para mim, fica claro que fotografia é olhar. Isso é o mais importante. É entender a limitação técnica e aproveitar como um registro de um tempo nas nossas vidas. Entender que durante meses nosso mundo imagético vai se resumir às nossas casas e os registros não serão em full HD”, afirma.

A nova técnica de fotografar deu um formato novo as imagens, Bispo fez questão de deixar isso bem claro em suas publicações, que são feitas em suas redes sociais (Instagram, Twitter), além da moldura em volta das fotos, a maioria delas possui formato vertical que se assemelha ao formato de selfie dos celulares, deixando a impressão de que realmente foi feito remotamente.


Apesar das imagens não oferecerem a mesma resolução HD, de seus trabalhos anteriores, as imagens são bem nítidas e verídicas, não perdem seus valores expressivos, sendo de bom grado aos olhos.


As expressões marcantes que são características em seus retratos, também são marcadas nos registros feitos remotamente, o uso do efeito preto e branco também é colocado sobre as fotografias. A apropriação da luz natural como uma alternativa para a falta de tripés de iluminação e o uso do flash, são bem visíveis nas imagens, assim como o reforço na composição das fotos com objetos da própria casa das pessoas fotografadas.


Crédito: Jorge Bispo

Diferente das suas fotografias usuais onde se era escolhido cenário, luz, toda uma produção, esses retratos são feitos dentro das casas das pessoas, um espaço privado e pessoal, questões éticas são aplicadas, com a permissão do fotografado. Bispo, ainda garante que as pessoas escolham o local que se sintam mais confortáveis para serem fotografados. Além disso, é possível observar que a narrativa das fotos tem sentido temporal, muitas delas Bispo revela como ela foi direcionada, isto é, os seus bastidores.


“Eu peço para, no início da ligação, as pessoas me mostrarem o ambiente, onde ficariam confortáveis em fotografar, porque é a casa das pessoas. Então, a primeira coisa é ver o espaço, onde tem luz, onde tem janela, onde a pessoa quer ser fotografada. Então, pela câmera, eu escolho um local e, depois, escolho o enquadramento. A gente usa umas gambiarras – as pessoas apoiam o celular em livros, encostam numa mesa, na janela – e vou achando o enquadramento e dirigindo a pessoa para posicionar o celular no lugar certo. Depois, dirijo a pessoa no retrato propriamente dito, só por voz, porque eu fotografo com a câmera principal, não com a de selfie. Então, a pessoa não está nem se vendo, nem me vendo, ela só ouve a minha voz”. (entrevista à revista Trip, 03.04.2020).



Em questões autorais pode se considerar uma autoria compartilhada, a uma colaboração do fotógrafo com o “modelo” da foto. Devido ao modo em que são feitas as imagens, Bispo pensa em toda produção, conduz o ensaio, porém depende da ajuda das pessoas fotografadas que conduz a “câmera”.


O resultado do trabalho é incrível, Bispo construiu retratos de maneira “natural" e simples, com um ar de conforto e de lar. Talvez seja esse o objetivo de um retrato feito remotamente, além de ser uma nova opção para fotografias a distância em tempos de pandemia, o efeito que imagens desse tipo causam no público.



Diante dessa abordagem, sabidos dos impactos gerado pela pandemia, no âmbito da fotografia, é válido questionar se a alternativa remota veio para ficar definitivamente e será uma tendência mesmo após a pandemia. Dar voz a alguém que tem propriedade no assunto pode ser uma tentativa de resposta. Em entrevista a “FHOX”, num bate-papo pelo Zoom o fotógrafo Rubens Vieira, ressalta “Claro que a fotografia “virtual” não vai substituir a real. Claro que em algum momento as coisas devem voltar ao normal. Ninguém ainda sabe quando isso vai ocorrer, logo agir com abordagens criativas e inusitadas parece sim uma estratégia acertada”.

 

FICHA TÉCNICA:

Fotografias Analisadas: Jorge Bispo

Supervisão Editorial: Rostand Melo


*Observatório de fotojornalismo:

O Coletivo F8 optou por produzir análises sobre produções de fotojornalismo realizadas e publicadas em 2020 como alternativa de manter a produção acadêmica dos estudantes de fotojornalismo da UEPB, respeitando os protocolos de distanciamento social. São analisadas fotografias publicadas em revistas, jornais ou portais de notícias e que abordam temas diversos, mas que foram produzidos no contexto da pandemia.

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