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  • Danúbia Fernandes, Dvanilson Marinho, Eledson Lino

'Jornalista bom' e outros tantos Orlandos


#PraCegoVer: A foto mostra o professor Orlando Ângelo, com uma camisa azul com detalhes em rosa na vertical, sentado numa cadeira fotografado num plano de baixo para cima. Ele está olhando para a sua esquerda e erguendo o braço à altura do queixo.

“Nem deve ser tão difícil perfilar o professor Orlando”, foi esse o meu primeiro pensamento que, desdenhando a responsabilidade de realizar uma atividade acadêmica, me propus insistentemente em realizá-lo na própria universidade sem muito “amostramento”, para me poupar algum esforço.

Apesar de não esconder a admiração pelo Orlando Ângelo, a quem todos têm o prazer de cumprimentar, abraçar, tirar foto, chamar de "avô" e saudá-lo na chegada e na saída, o meu pensamento foi, a princípio, despretensioso, era apenas um dever a ser cumprido, mas digamos que pensei errado.

Certa vez, li num site de fofoca, que o jornalista Pedro Bial afirmara em uma entrevista que “os bons jornalistas não acreditam em coisa alguma; e se considera um profissional razoável, apesar de também não crer em porra nenhuma”. Eu – que nem sou jornalista ainda – já ouso retrucá-lo, porque certamente ele não conhece Orlando, e isso já o coloca em desvantagem de muitos outros que, não só o conhecem, como sabem que “os bons jornalistas são os socialistas” e não os ateus.

Socialista, lulista convicto e cristão – pasme Pedro – o Orlando não se incomoda de tirar as bandeiras do bolso, afinal uma bandeira no bolso continua no bolso, penso, e como ninguém acredita em imparcialidade, ninguém tem porquê questionar.

“Os bons jornalistas são os socialistas”

Orlando Ângelo

Orlando Ângelo da Silva, 62, é filho do sertanejo humanista Benjamin, que o ninou até os sete anos de idade na rede. “Me recordo das vezes que eu babava na camisa dele”, recorda saudosista que ao mesmo tempo que dava entrevista cercado de estudantes, dirigia a fotografia para que não fosse feita de cima para baixo, ou em bom fotografês, em plonglée. Obedecendo, escolhi como destaque para esse texto uma foto “de baixo para cima”, para acolher sua sugestão e preservar sua ausência de cabelo. Foi ali mesmo que tive a impressão que, de certa forma, o Orlando que queria descrever fosse o espelho do pai, e da mãe Sílvia, uma pequena grande mulher, a quem o jovem Orlando recorda que a chamava na porta da casa “a que nunca se trancava de chave, só no trinco”: “mãe!” repete em tom arrastado, até que ela respondesse “estou aqui, meu filho”, o beijando onde o alcançava.

Fiz questão de mencionar estas impressões, porque também fiz questão de não ler nada sobre ele antes do encontro e por acreditar nessa referência familiar neste começo decidi chamá-lo Orlando de Benjamin. Do jeito que se diz no meu interior e no dele.

A foto retrata um 'close' no rosto do professor Orlando, voltado para sua esquerda ele aparece sereno ao ouvir a indagação de um estudante a quem acompanha com o olhar.

O caçula de três irmãos, sendo uma irmã, Orlando de Benjamin sonhava em ser tudo na vida, motivado pelo ecossistema rural do Vale do Piancó, na Paraíba. De médico veterinário a agrônomo. Chegou a prestar vestibular “sóbrio” nas duas áreas, “mas não vingou”. Até, que atraído pelas ondas da Rádio Globo, foi convidado por carta, pelo primo, a tentar Comunicação Social na antiga Universidade Regional do Nordeste (URNe) hoje Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Prestou vestibular e no penúltimo dia de provas, em João Pessoa, se aventurou numa “atividade etílica”. Mesmo assim venceu, não só a ressaca, mas a prova e o “carão” da tia, que o hospedou durante o processo. “Além de socialista, um bom jornalista precisa saber beber”.

Formado, Orlando, o jornalista, atuou no impresso de repórter a chefia, no Jornal A União, no Jornal da Paraíba, colunista do Diário da Borborema, em impressos menores, na assessoria de comunicação de políticos, até em sites como o iParaíba. Nessas investidas, decepcionou-se com a área policial ao cobrir um crime cuja vítima, uma menina, lembrava suas próprias filhas. Não foi falta de coragem – acredito – mas o pacifismo do Orlando de Benjamin, não pôde interferir na vida do Orlando Jornalista. Este amava a profissão e soube se posicionar no mercado.

Falo de coragem, porque segundo o próprio professor Orlando, “além de socialista e bom de copo, um bom jornalista precisa de coragem” e disto certamente o Pedro lá da Rede Globo não discorda, já que foi correspondente de guerra.

Portador da carteirinha de número 7262 na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), após cursar direito na UEPB, o Orlando Advogado chegou a atuar, compôs um escritório conceituado, mas certamente desses dois Orlandos citados por último, o Jornalista se sobressai. “Jornalismo é minha vida. Quando me perguntam o que eu faço nunca digo que sou advogado, nunca digo que sou professor, digo: eu sou jornalista”.

A foto mostra um retrato do professor Orlando Ângelo dando uma gargalhada em sua sala. De olhos fechados e sorriso largo, o professor leva a mão à boca. Ele veste a mesma camisa azul com detalhes rosas na vertical. Ao fundo é possivel ver um porta-retrato com uma foto do professor com seu e sua mãe.

"Jornalismo é minha vida"

Orlando Ângelo

O que dizem os alunos

Eu, que até agora, só apresentei dados desconexos para chamar a atenção a figura humana dos profissionais Orlandos que me foram apresentados durante a entrevista, dou um passo à frente para mais detalhadamente falar do professor Orlando: o Mestre. A gente lê aqueles clássicos da Ciência Política, estuda sobre carisma, sobre personalidade, para se deparar com alguém da bagagem espiritual dele e renovar a fé na humanidade. Pode parecer hiperbólico ou que falte isenção de minha parte, por isso fiz questão de ouvir alguns estudantes sobre o professor e segue as impressões.

“Ele é o melhor professor, amo ele”, segundo Beatriz Ferreira.

“Orlando é a melhor pessoa. Compreensivo, ele entende as tristezas da vida acadêmica”, completou Bianca Letícia, 18.

“Aprendi com ele que jornalista não pode ter medo e jornalista bom é jornalista socialista”, emendou Dandara Araújo.

“Pela bagagem de conhecimento, pelo tempo que ele tem no jornalismo, ele tem passado para a gente muito conhecimento. Compreende os alunos, é extrovertido, e ele bota a gente para praticar muito”, relatou Mateus Souza. Todos do primeiro período de jornalismo da UEPB.

Orlando Ângelo é mais que um simples professor, é avô e pai de muita gente, igual a seu Benjamin, é inspiração e espelho para outros tantos, igual dona Sílvia, é referência e credibilidade para vários. Na UEPB, um ser político. Exerceu cargos eletivos como coordenador do curso de Comunicação Social, Diretor de Centro e eleito neste ano para mais uma gestão à frente do Departamento de Comunicação.

Como cabe tanto Orlando em um só ser eu não sei. Ainda tenho alguns anos para descobrir e quando eu descobrir devo contar a vocês. Eu só não posso acabar esse texto sem mencionar minha maior inquietação, eu, como não fui nem aos Alpes Suíços nem à Piancó, meu objetivo de vida será provar que seu Orlando tem razão ao afirmar ao amigo recém-chegado do Pico Dufour de que a melhor viagem que fez na vida foi para as Terras de Santo Antônio.

FICHA TÉCNICA:

Fotografias e reportagem: Danúbia, Fernandes, Dvanilson Marinho, Eledson Lino, Lara Milena, Joab Freire.

Texto e edição: Joab Freire.

Monitoria: Mayara Bezerra.

Supervisão Editorial: Rostand Melo

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