Entre versos e poesia: a trajetória artística de Priscila Medeiros
- coletivof8noite
- 26 de abr.
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No sertão do Cariri paraibano, onde o vento sopra histórias e a terra germina versos, nasceu Aila Priscila Paulino Medeiros, em 5 de fevereiro de 1990, na cidade de Gurjão. Filha de Maria de Fátima e Percilio Medeiros, conhecido como Tuta, foi embalada desde cedo por rezas e cantigas herdadas da voz suave e marcante de sua avó, Dona Zefa de Nobilino (in memória); memória viva que ainda hoje ressoa em cada palavra que Priscila escreve.
Criada entre raízes profundas e afetos simples, cresceu em um lar onde a tradição nordestina não era apenas lembrança, mas parte do cotidiano; nas festas, nas conversas de calçada, no cheiro do milho assado e no compasso da sanfona. Foi nesse cenário que ela começou a tecer sua ligação com a arte; primeiro com o ouvir atento, depois com o escrever cuidadoso.

Autodativa no violão, Priscila descobriu que a música era extensão de sua alma; em cada acorde, encontrava espaço para transformar vivências em canções, dores em cura, lembranças em versos. A fé também moldou sua relação com a música. Desde os 12 anos, quando começou a tocar pandeirola nas missas, Priscila já sentia o chamado que a faria ecoar sua voz entre as paredes sagradas da igreja. Com 14 para 15 anos, passou a cantar salmos e ali, entre harmonias suaves e palavras litúrgicas, foi descobrindo a força que sua voz tinha de tocar as almas.
Nesse caminho de descoberta e entrega, uma figura foi essencial: Dona Maria Auxiliadora (in memória) “Maria me ensinou melodias de salmos do Ofício Divino, me ensinou a ler respeitando ponto e vírgula. A ter uma boa dicção”, recorda Priscila com carinho. Dona Maria lhe emprestava a liturgia para que ela pudesse levar para casa, ensaiar a leitura e, depois, retornar para ler, sob o olhar atento e generoso de quem sabia reconhecer e lapidar talentos. Essa troca se tornou um pilar na formação de Priscila, não só como musicista, mas como alguém que vive a liturgia com o coração. Em 28 de março de 2012, uniu-se ao Ministério São Sebastião, onde começou a tocar violão e, mais tarde, assumiu a coordenação com amor e dedicação. Há mais de oito anos à frente do grupo, sua presença é guia e consolo, fazendo da música uma ponte entre o divino e o coração de quem escuta.

A poesia não tardou a chegar, ela abraçou como quem reencontra uma parte de si. Inspirada por nomes como Patativa do Assaré, Pinto do Monteiro e Vinícius de Moraes, aprendeu a brincar com as palavras com a mesma liberdade de quem brinca na rua ao cair da tarde.
Aos 15 anos, escreveu seu primeiro soneto, inspirado em Vinícius de Moraes; e não parou mais. Por incentivo de amigos, passou a escrever para a quadrilha junina de seu município; missão que já desempenha há oito anos com dedicação e afeto. Essas experiências afiaram sua rima e sua métrica; abrindo caminho para a criação de cordéis que se tornaram verdadeiros retratos do sertão. Um deles, "O retorno de Lampião para o Sertão", nasceu como peça teatral, mas ganhou força própria nas mãos de Priscila, que o transformou em arte viva e pulsante.
Sua trajetória profissional é guiada pela sensibilidade de quem cuida do outro. Formada em Nutrição, atua na área de diversas formas, seja ela particular ou em clínicas, Priscila também é agente de Vigilância sanitária do município. Durante a pandemia, esteve atuando na linha de frente, enfrentando os desafios diários com coragem e empatia.

Ainda durante a pandemia, Priscila participou de um livro coletivo. Intitulado de “versosterapia” esta experiência, ela relembra “Essa foi uma oportunidade muito especial que se passou na pandemia. Estava um tempo ocioso. E que, pra mim, realmente foi uma terapia. Porque eu pude ter o espaço pra conseguir enviar algumas poesias e sair nesse livro. O livro tinha justamente a intenção de vir como uma terapia, através dos versos, naquele momento tão difícil que o povo passava, que era a pandemia.”
Apaixonada também pela música popular nordestina, carrega em seu repertório referências como Elba Ramalho, Zé Ramalho e Chico César; entre muitos outros artistas que traduzem o espírito da terra.
Sua escrita não nasceu nos bancos das universidades, mas no terreiro da vida; entre conversas de quintal e memórias partilhadas ao pé do fogão. Carrega o brilho da palavra viva; aquela que se aprende escutando os mais velhos, observando o mundo e sentindo o pulsar da terra. Sua literatura é instintiva, enraizada e afetuosa; um saber que brota da experiência e floresce na alma.

Priscila acredita, com esperança serena, que o espaço para a mulher no cordel vem crescendo; cita com entusiasmo o projeto "Cordel das Rosas", feito só por mulheres, e vê na sala de aula um território fértil para a literatura popular continuar florescendo.
Hoje, cultiva um livro em silêncio; ainda sem título, sem data de publicação, mas cheio de sentimento. Vai escrevendo aos poucos, quando a inspiração sopra; como o vento que chega sem avisar no cariri. Um projeto que carrega no tempo da alma, e não do relógio ou do prazo do calendário. Deseja ser lembrada não como alguém que buscou a fama, mas como quem, com doçura e verdade, inspirou outras pessoas a escrever, cantar, e sonhar.

Guarda como lembrança afetiva as festas de sua rua; o Carnaval e o São João, quando sua mãe e avó se juntavam para formar o bloco, e a quadrilha; que até hoje, mais de vinte anos depois, continua viva e dançante. Essa memória, ela diz, é uma das maiores alegrias que carrega no peito.
Para quem sonha em seguir a trilha da poesia popular ou do cordel, ela deixa uma mensagem simples e poderosa: “Busque sua essência; é nela que mora a força da inspiração. E nunca desista dos seus sonhos, mesmo diante das dificuldades; a poesia nasce quando a gente acredita que pode transformar sentimento em palavra, memória em eternidade.”

Priscila Medeiros e, a sim, uma ponte delicada entre passado e presente; seu trabalho é semente lançada na terra da cultura, onde as raízes são profundas e os frutos, poesia.
Expediente
Fotografia: Leandro Felix
Redação: Leandro Felix
Entrevistador : Leandro Felix
Produção : Leandro Felix
Revisão: Leandro Felix
Monitoria : Bianca Dantas e Cecília Sales
Supervisão editorial: Rostand Melo e Ada Guedes
Agradecimento: A Fátima a mulher que trouxe Priscila ao mundo, por preservar tão bem a memória de Dona Zefa, e nos disponibilizado o cenário da Casa de taipa.





























A os Santos pedir inspiração para que pudesse inscrever, contar de uma vida de cultura e literatura popular, essa história irá encantar todos vocês.