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  • Giovanna Morais e Pedro Santos

Benedito do Rojão: conheça as memórias do Mestre das Artes da Paraíba


Benedito do Rojão em Catolé de Boa Vista/ Foto: Pedro Silva

Com a música presente em suas veias desde que se entende por gente, o nordestino, nascido no Sítio Juá, zona rural de Campina Grande, se destaca pela maestria em tocar viola, pandeiro e cantar diversos ritmos musicais. Entre eles, o que dá título ao seu nome artístico, e faz questão de honrar a designação que lhe foi dada, a de ''Mestre das Artes da Paraíba''. Apresentamos, Benedito do Rojão.


Filho de Benedito Eliotério e Regina Maria da Conceição, Seu João - como é chamado pelos mais íntimos - diz que começou sua carreira antes mesmo de nascer. Quando pequeno, Benedito já tinha o coco como um bem familiar passado de geração para geração. Suas primeiras influências musicais vieram da família paterna, mesmo este não tendo noção ou conhecimento algum do que era música ou que esta arte viria a se tornar o amor de sua vida no futuro.


Assim, para conhecer ainda mais a história e vida de João Benedito Marques, popularmente conhecido como Benedito do Rojão, acompanhe a entrevista que realizamos com ele, com perguntas sobre sua carreira, vida pessoal e como o artista está lidando com a falta de música e de trabalhos na pandemia.



Coletivo F8: Como foi seu encontro com a música?


BENEDITO: Me criei ouvindo música mas sem saber do que aquilo se tratava. A primeira canção que ouvi tinha uns treze anos de idade, quando o meu professor, José Amaro de Melo, conhecido como Biró, me apresentou ao violão e ali, eu me dediquei à arte. José foi a minha primeira influência e, foi com o surgimento de um sanfoneiro no pequeno vilarejo onde morava que, após uma longa decisão entre meus pais que fiz a minha primeira viagem para o Catolé. Onde em mim, este homem viu um talento e me mostrou o mundo da música. Cantei dos 15 até os 21 anos de idade com este sanfoneiro e, após seu falecimento, me mudei para Juazeirinho. Lá, entrei em um conjunto de sanfona, zabumba, bateria, pandeiro, violão e clarinete, onde permaneci por dois anos. Ganhando reconhecimento, vim para Campina Grande e, em um programa de calouros, chamado ''Domingo Alegre'' na Rádio Borborema, cantava algumas músicas por quinze cruzeiros. Passei duas semanas dentro deste programa e, logo após, comecei a ser titular no local. Ganhei patrocínio da Santa Sofia e, quando menos esperava, larguei os meus casamentos arranjados por aqui e fiz minha vida em Recife.


 

Levando a vida de maneira tranquila, paga pela sua arte, Benedito tocou em diversas rádios pelo Brasil afora. Porém, ''marchou para o caminho da felicidade'', quando retornou para Campina Grande. O cantor participou da inauguração da TV Borborema, junto com diversos artistas, suas referências, e foi ali que fisgou a atenção de Luiz Amorim.



Benedito em frente ao portão de sua casa em Catolé de Boa Vista/ Foto: Pedro Silva

Coletivo F8: Depois do reconhecimento, vieram as premiações e creio que isso marcou muito sua vida. Como foi chegar até lá? Quais os momentos mais marcantes?


BENEDITO: O momento mais marcante da minha carreira, sem dúvidas, foi quando fui resgatado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Ali, foi quando marchei a para porta da felicidade. Ter o meu primeiro CD gravado e entregue em minhas mãos, foi de um sentimento sem tamanho. Lembro exatamente do dia em que recebi a proposta, e no dia que vi o meu trabalho sendo reconhecido, estava ansioso e tremendo. Meu corpo sentia todas essas influências e, foi a partir das oportunidades que surgiram desse resgate, que regravei uma das minhas músicas favoritas, chamada de ''Pedido a São Francisco'', que compus em uma viagem para o Rio São Francisco. Uma parte muito emocionante e inesquecível em minha vida, tanto para o jovem Benedito Marques, quanto para Benedito do Rojão.


Benedito tocando pandeiro/ Foto: Pedro Silva

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Coletivo F8: Já que estamos falando de música, quais foram as suas referências nesse meio?


BENEDITO: Minhas maiores influências foram Jackson do Pandeiro e Flávio José. Foram dois cantores que me inspirei desde o início de minha trajetória, tanto na música, quanto no ritmo e nos trabalhos. Também admiro muito Genival Lacerda, Tom Oliveira, Amazan, Osvaldo Oliveira e mesmo sendo diferentes do estilo que canto, Luiz Gonzaga. Este foi um grande artista que admirei muito. Um homem daqueles que nunca conseguirão replicar, jamais. Um repertório e talento daqueles é algo inconcebível. Grande figura da música brasileira, sem dúvidas. Além disso, com certeza, me apresentar em todos os cantos do Brasil, desde São Paulo até a Bahia, com alguns desses artistas, como João Gonçalves e Inaldete Amorim, me marcou imensamente como pessoa.



Benedito em frente ao portão de sua casa em Campina Grande, tocando viola/ Foto: Pedro Silva
Estou me virando com muita tristeza, sem poder tocar um pouco de minha viola e, sinceramente, poder tocar para um público aglomerado como antes, me faria mais feliz que qualquer quantia em dinheiro.


Coletivo F8: Em meio a uma pandemia, como está tendo que lidar artisticamente e financeiramente?


BENEDITO: A doença é muito grande e nós não temos capacidade de entender. Quem escapa dela enfrentou Lampião sem armas. É uma doença que admira até quem não conhece o que é medicina, que tomou conta do mundo inteiro e atingiu drasticamente o meu lado, o lado artístico. Estou me virando com muita tristeza, sem poder tocar um pouco de minha viola e, sinceramente, poder tocar para um público aglomerado como antes, me faria mais feliz que qualquer quantia em dinheiro. Música, para mim, é a maior beleza que tem no mundo. Não seria nada sem música, o meu maior prazer é cantar e ouvir música. Me criei sem ouvir e, assim que a conheci e a entendi como arte, ela se tornou tudo para mim.



Coletivo F8: Quais seus planos futuros? Pretende lançar mais CDs, mais músicas...?


BENEDITO: Pretendo sim. Tenho um CD com regravações de músicas antigas, chamado de Benedito no Coco, onde trago as minhas composições favoritas regravadas, como Tem Coco na Paraíba, Sombra do Cajueiro e Forró em Campina Grande. Pretendo lançar quando todo esse “mal do mundo’’ acabar e espero que seja logo. Estou morrendo de saudades do palco.




Atualmente, aos 83 anos de idade, o mestre folheia o livro de memórias de sua vida, tornando-se um grande bibliotecário de sua própria carreira. Durante o dia, senta em frente à viola e escuta todos os seus CDS e gravações em fitas K-7 como forma de visitar a melhor parte de sua vida. Casado com Maria de Castro Marques, com quem reside atualmente na cidade de Campina Grande, conta que o maior ensinamento que o jovem Benedito Marques de 15 anos deixou para ele foi: ''nunca desistir de seus sonhos''.


Desistir sempre será uma palavra inexistente na vida desse artista. Tentou e persistiu em todos os desafios que encontrou em sua trajetória. Sempre com um sorriso no rosto. A música está em Benedito, assim como Benedito está na música. Um artista que respira sua própria arte, que inspira com sua história de vida. Benedito do Rojão é um tesouro da música paraibana. Tesouro este que jamais esquecido, assim como o amor do artista pela arte. Um tesouro eterno e intacto.

 

FICHA TÉCNICA

Fotografia: Pedro Santos

Entrevista e texto: Giovanna Morais e Pedro Santos

Monitoria e redes sociais: Manoel Cândido, Josineide Barbosa e Louise Viana

Revisão Textual: Ada Guedes

Supervisão editorial: Rostand Melo









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