Há alguns anos, no interior do nordeste paraibano, nasce uma guarabirense arretada e cheia de bravura. Cleonilda Francisco de Moura, criada em um sítio próximo a Guarabira, teve durante toda sua infância dificuldades presentes, mas adjacente a isso, a vontade de mudar a condição em que vivia: “Minha vontade de sair daquela situação para que pudesse oferecer uma vida melhor aos meus pais era o que me movia”, conta ela.
E assim, mesmo sendo tardio ao nosso ver precário e forjado por uma necessidade de contagem cronológica, ela contraria a limitação imposta, e aos 40 anos de idade, decidiu mudar sua história.
Sua infância e adolescência foram de inúmeras dificuldades. Seus pais, simples agricultores, tiveram que batalhar muito para poder criá-la junto com seus 11 irmãos. Um dos maiores medos da família era a fome: “Trabalhávamos muito para garantir o mínimo que era a alimentação. Minha família sempre foi uma família numerosa e por morarmos na zona rural, tudo se dificultava ainda mais”. Outra complicação, além da fome e do trabalho infantil que perpassaram a infância de Cleonilda foi o atraso escolar.
Mesmo com a grande vontade de poder terminar o ensino médio, as problemáticas colocavam pedras no caminho, seus pais não tinham condições de ajuda-la, mas nunca deixaram de apoia-la: “Eles me davam muita força, viam que era a única entre os doze que agia de maneira diferente, mas não tinham condições para me oferecer um estudo melhor ou até mesmo um material escolar”, diz ela.
Diante de toda essa situação, Cleonilda não se isentava da tristeza, mas entendia que os pais precisavam da mão de obra dos filhos para que não lhes faltassem o que comer e o necessário para sobrevivência da família.
Quando adolescente, gostava de observar as professoras da catequese e as tinha como uma inspiração profissional. Além disso, gostava de ler, mas não tinha acesso livre a leitura. “...as condições precárias nas quais vivíamos, não me davam oportunidade de conhecer novos conceitos e novas culturas”, menciona.
Após o ensino médio, foi direcionada ao mercado de trabalho, e ao trabalhar no comércio e em uma fábrica durante nove anos, apesar de ganhar experiência e fazer amizades, sofreu muitas humilhações e por vezes teve seus direitos negados. Também trabalhou como diarista e foi tão difícil quanto nos demais empregos.
Contudo, Cleonilda nunca deixou de lado a vontade de se profissionalizar. E envolvendo esse desejo, dentre tantas pessoas que desacreditaram dela, estava uma sobrinha:
“...me chamou de louca por querer me formar, neste tempo eu trabalhava como faxineira em uma clínica, no momento em que fui humilhada por ela, entrei no quartinho da dispensa onde ficava o lixo e comecei a chorar, quando ela me viu disse que era lá o meu lugar. Depois disso criei forças para mudar toda a minha história e realmente investir nos meus estudos”
Independente de toda vontade de crescer, não pode ser descartado que em alguns momentos, ela pensou em desistir. Mas revestida de coragem, ela sabia que “...nada seria em vão, que todo todo esforço algum dia iria fazer a diferença.” Além das dificuldades no trabalho, também somava suas responsabilidades domésticas e a educação de três filhos pequenos e mesmo assim, ela não parou. Ela sabia onde queria chegar.
O sonho de ser a única filha entre os 12 que se formaria, o anseio para estudar desde pequena, todas as humilhações e descrenças depositadas sobre ela, a fizeram lutar bravamente por seus objetivos e alcançar sua formação acadêmica. Formou-se em pedagogia aos 40 anos de idade. Nos ensinando, portanto, que nunca é tarde pra buscarmos realizar aquilo que faz nosso coração pulsar mais forte.
“Me sinto muito orgulhosa de ter conseguido chegar até aqui, e ao olhar para trás, vejo que tudo foi fruto de muito esforço e escolhas.”
Hoje, atuando na área da pedagogia, Cleonilda tem ajudado várias crianças, ensinado com muita dedicação. E se sente grata.
“... até pelos momentos em que fui taxada como louca, besta e entre outros adjetivos! Consegui realizar meus sonhos, tenho casa própria, carro, moto, trabalho, amigos, família e hoje posso oferecer um futuro melhor para os meus filhos! Não sei como expressar minha felicidade, pois é isso que sinto quando vejo mais uma criança recebendo conhecimento por mim. Ser professor é trabalhar com amor, mesmo muitas vezes não sendo reconhecido. O que nos move é a forma em que conseguimos construir um futuro melhor para cada cidadão, mudando pensamentos e quebrando tabus”, declara.
E concluindo todos os seus ensinamentos e sua trajetória, ela nos deixa uma lição:
“nunca desistam de seus sonhos ou objetivos, a caminhada nunca é fácil, mas só conseguiremos depois do primeiro passo. E não liguem para opinião de terceiros, você será sua maior inspiração.”
Confira mais fotos no slideshow:
_________________________________________________________________________________________
FICHA TÉCNICA
Fotografia e Texto: Débora Campos, Ewilla Carla e Nicoly Calixto
Edição: Débora Campos e Nicoly Calixto
Monitoria: Oma Roxana , Andresa Alves e Louise Viana
Supervisão editorial: Rostand Melo e Ada Guedes
Comments