Eduardo Muneron: A influência que transforma

Coletivo F8
há 5 dias
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Aos 18 anos, Eduardo Muneron é um jovem que representa muito mais do que números nas redes sociais. Ele é um exemplo vivo de coragem, autenticidade e resistência para a comunidade trans. Natural de Curitiba, Paraná, viveu sua infância e parte de sua adolescência em Estrela, no interior do Rio Grande do Sul, entretanto foi no final de 2020, com seus 13 anos que viu uma chance de se reconhecer, ao se mudar para o Rio de Janeiro.

Longe da rotina interiorana e das pressões sociais e familiares, Eduardo encontrou no TikTok não apenas uma forma de exteriorizar seus pensamentos, mas sim uma ponte para se autodescobrir - e para ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo.

"Foi no TikTok que encontrei espaço para falar sobre o que eu sentia e, principalmente, para perceber que eu não estava sozinho."

Atualmente, morando em Campina Grande (PB), é estudante do curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) onde ingressou pela cota transgênero. Transformando o cotidiano em narrativas reais, inclusivas e acolhedoras, Eduardo é mais do que um criador de conteúdo comum, é uma voz potente não só para a comunidade trans, mas também para todas as pessoas LGBTQIAPN+.

Seus vídeos que começaram como um hobby, hoje são um símbolo de ativismo digital e somam milhares de visualizações. Além disso, “Dudu do TikTok ”, assim conhecido digitalmente, carrega consigo mais de 200 mil seguidores em suas duas contas ativas na plataforma - público esse que se mostra muito fiel em acompanhar vídeos que abordam desde temas delicados como identidade de gênero até momentos leves seu do dia a dia.

AS PRIMEIRAS DIFERENÇAS

Desde de pequeno, Eduardo sentia que havia algo diferente dentro de si, entretanto não conseguia nomear. O sentimento de estranhamento em relação às expectativas sociais que o cercavam era sempre muito presente e não se sentia confortável com as imposições da feminilidade na infância.

O desconforto aumentou na puberdade. Enquanto seus colegas transpareciam muita euforia pelas transformações típicas da adolescência, Eduardo carregava uma angústia que não conseguia descrever..

"Na puberdade, comecei a ter crises de disforia muito fortes e não entendia. Todos ao meu redor estavam felizes de estar entrando nessa fase e eu estava odiando."

Mesmo sem compreender a sensação de inadequação constante, em pequenos detalhes na infância, já expressava sua identificação com o universo masculino. Essas marcas sutis nos tempos de criança foram, mais tarde, reconhecidas como os primeiros sinais de quem ele realmente era.

QUANDO SER ERA LUTA

O rumo de aceitação de sua identidade como homem trans foi marcado por desafios externos e internos. Mesmo após identificar sinais em si, lidar com eles foi muito doloroso. O medo da rejeição familiar, da solidão e dos obstáculos que enfrentaria na vida pessoal e profissional o assombrava.

Um dos momentos mais difíceis foi o início da adaptação do próprio corpo à nova realidade. Eduardo recorda o sentimento de insatisfação de não conseguir expressar sua identidade através da sua aparência, por não ter condições financeiras para mudar seu guarda-roupa ou adquirir um binder, peça que representava, para ele, a possibilidade concreta de alinhar seu corpo à sua vivência de gênero e experimentar a euforia de se sentir masculino.

Eduardo Muneron usando o binder. Foto: Isabelly Rodrigues

Mesmo diante do medo, Eduardo escolheu seguir em frente. Cada pequeno passo, seja uma roupa diferente, um cabelo mais curto, um nome novo, era um ato de resistência e afirmação de si.

APOIO QUE LIBERTA

Eduardo reconhece que a construção de uma identidade trans não se faz de forma isolada. As redes de apoio formadas por amigos, familiares e seguidores, foram imprescindíveis para que ele pudesse se fortalecer emocionalmente e se afirmar com segurança.

Apesar da dificuldade no âmbito familiar no início, ele reconhece que teve sorte em poder contar com o acolhimento e aceitação dos pais. Já nas redes sociais, os laços foram além do apoio e tornaram-se amizades leais. Eduardo cita o influenciador Matteo (@httpmatteo), grande inspiração profissional e pessoal, e afirma: “é muito bonito ver o Matteo, como influenciador, alcançando lugares que eu pensei que pessoas trans jamais alcançariam”.

Eduardo também reconhece a importância da representatividade cuidadosa e responsável. Em cada publicação e interação, ele constrói pontes feitas de resistência e empatia, que sustentam não só apenas a sua caminhada, mas a de milhares de pessoas que veem nele o reflexo da esperança.

"É a gente por nós. Se você joga ódio em cima de alguém que tem as mesmas dores que você, isso não te torna melhor que uma pessoa cistransfóbica."

O AMANHÃ EM CONSTRUÇÃO

Estudando Psicologia, sonha em atuar diretamente no acolhimento de pessoas trans, oferecendo o suporte que sentiu falta em muitos momentos da vida. Paralelamente, honrando seus 200 mil seguidores no TikTok, Eduardo pretende continuar criando conteúdos voltados à representatividade da comunidade.

Afirma que uma pauta que abordará com o intuito de auxiliar pessoas nas redes, será sobre terapia hormonal, já que está iniciando seu processo e em breve terá experiências de mudanças físicas para compartilhar.

Seu desejo é de um futuro em que as vozes de mais pessoas trans sejam ouvidas. E que não importa onde esteja, no Nordeste, Sul ou Sudeste, Eduardo se compromete em continuar sendo um porta-voz para que direitos sejam alcançados, pessoas sejam acolhidas e espaços sejam construídos.