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  • Manoel Cândido, Marcela Valentim, Mirella Marques

Peixes contaminados do Açude Velho são consumidos em Campina


Os pescadores só podem pescar nos finais de semana, segundo determinação da prefeitura da cidade

Mesmo após várias denúncias anteriores, muitos moradores continuam pescando e consumindo os peixes do Açude Velho, cartão postal de Campina Grande-PB, cujas águas são poluídas. A cena é comum para quem frequenta o local, cercado por monumentos, museus, pontos comerciais e prédios residenciais de alto padrão. Confira na reportagem produzida em 2019, antes da pandemia.

A história do açude começa em 1928. O manancial foi construído no leito do antigo Riacho das Piabas, o mesmo já serviu para abastecimento de água para moradores da região da Borborema.

José Wilson, natural de Campina Grande, afirma que suas idas ao Açude Velho são para promover lazer para sua família e conseguir manter uma forma de sustento. Ele pesca para consumo próprio, divide com amigos e família, mas não comercializa os peixes.


Segundo seus relatos, a Prefeitura estipulou uma restrição à pesca durante a semana devido a visitação e fluxo de pessoas ao “cartão postal” da cidade e também por causa da poluição da água, que torna o peixe do açude impróprio para o consumo humano. Porém, a prática seria, segundo os pescadores, liberada aos domingos após horário de almoço e semanalmente ao entardecer do dia.


A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (Sesuma) confirmou, por meio da assessoria de imprensa, que a pesca no local é proibida devido à poluição nas águas, independente do dia da semana ou horário.

O pescador ainda comenta que não presenciou e não soube de nenhum caso de doença transmitida pelo consumo do peixe do Açude Velho, apesar de contar em tom de brincadeira que “a única doença que têm, vou ser bastante sincero ao dizer… é a vontade de vir pegar mais”.

Enquanto isso, Maria Francimar da Silva, 26, afirma que a pesca é para o sustento de sua família. Ela conta que há fiscalização e a única “punição” para quem infringe os horários e dias permitidos é o impedimento da pesca no local e a solicitação dos agentes para que os pescadores se direcionem ao canal. Ela também afirma que não teve nenhuma doença e nem soube de algum relato devido a ingestão dos peixes.

Já Creusa Regina da Silva, 73, pesca há seis meses no açude e comenta que existem pescadores que comercializam o pescado, mas, não soube identificar nenhum. Segundo ela, pode ser que esses peixes também sejam vendidos na feira da cidade para o consumidor sem que saibam da sua procedência.

Segundo João Batista, 64, pescador profissional, que passou mais de 10 anos pescando para o sustento e hoje tem a prática de pescar às margens do Açude Velho somente por ‘esporte’, o açude é poluído e por isso não come. Mas afirma que o “verme que estiver dentro do peixe não resiste a 100 graus de temperatura, sendo cozinhado ou frito”, por esse motivo, não há receio para consumir, porém, ele não adere a prática do consumo.

Para a nutricionista Valquíria Gomes, 48, se as pessoas não souberem fazer a higienização correta dos peixes, o consumidor pode acabar ingerindo também possíveis contaminantes físicos, químicos e biológicos, caso sejam ingeridos “crus”.

Foto: Manoel Cândido

Ela enfatiza que devido às toxinas cumulativas, doenças a curto prazo podem ser geradas, como os diversos tipos de diarreia, leptospirose, cólera e hepatite, segundo estudos. Além disso também há coliformes fecais que pode vir como contaminante e outros tipos de microrganismos.


A nutricionista alerta que a ação de higienização por parte do Poder Público é indispensável. Pois, a falta de fiscalização desse ato mostra a imprudência com a saúde pública. Em relação à população, conclui afirmando que a conscientização do descarte de lixo, a importância da reciclagem e a diminuição dos agrotóxicos contribuem para a diminuição da poluição no manancial.


SANEAMENTO

Em julho de 2020 a Prefeitura de Campina Grande assinou um acordo de cooperação técnica com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), formalizando uma parceria para a revitalização e limpeza das águas do Açude Velho. De acordo com gestão municipal, a parceria prevê a participação de técnicos e especialistas dos cursos de Mestrado e de Doutorado da área de Saneamento da UEPB. O objetivo é promover o melhoramento da qualidade da água, em termos de odor e aparência, entre outros muitos aspectos relacionados ao Açude Velho.

 

Ficha técnica

Supervisão editorial: Rostand Melo.

OBS: Reportagem produzida em 2019, antes do contexto de distanciamento social gerado pela pandemia da Covid-19.

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