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  • Luiz Emanuel e Helder Guilherme

CAIC das Malvinas: inovação em meio a descasos e demolições


Demolição - CAIC das Malvinas

Os Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAICs) foram um programa educacional brasileiro criado pelo governo Fernando Collor de Melo (1990-1992). Autores da educação apontam que o projeto tem inspiração em dois projetos anterioresː a Escola Parque, de idealização de Anísio Teixeira; e os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), idealizados por Darcy Ribeiro e construídos pelo estado do Rio de Janeiro na gestão Leonel Brizola, na década de 1980 com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer.


Em 1990, foi estabelecido o Projeto Minha Gente, inicialmente chamado de Centros Integrados de Atenção à Criança e ao Adolescente (CIAC). A elaboração desse projeto ficou a cargo da Legião Brasileira de Assistência, com a coordenação do Ministério da Criança. Nesse contexto, foi criado um novo programa chamado "Programa Minha Gente", que consistia na construção de conjuntos compostos por uma creche, uma escola de 1º Grau, uma lavanderia e um lar para idosos. Cada estado brasileiro deveria receber dois conjuntos desse tipo.


Após o impeachment de Fernando Collor, o governo Itamar Franco extinguiu o Ministério da

Criança e renomeou o "Projeto Minha Gente", como "Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente". Durante as mudanças, os CIACs viraram CAICs: Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente.


(Foto: Câmara Municipal de CG - ASCOM - Situação do CAIC)

O projeto arquitetônico dos CAICs foi desenvolvido por João da Gama Filgueira Lima, o Lelé. A arquitetura dos CAIC é de elegantes palácios escolares que, geralmente, compõe-se de uma quadra onde erguem-se quatro blocos semi-interligados, sendo que um deles serve como quadra poliesportiva. A cobertura de algumas quadras é em formato de pirâmide de telhado ornamentado com as cores da Bandeira Nacional.


A ideia do projeto sempre foi levar ações além das salas de aula com Projetos de Saúde e Esportes, levando o incentivo a práticas esportivas e o afastamento de Jovens dos perigos das ruas. Em Campina Grande, o CAIC chegou durante a década de 1990 como uma grande inovação, porém durante esses mais de 30 anos, o centro sofreu um total descaso governamental. A falta de professores e materiais eram constantes. A falta de manutenção custou às instalações parte de sua estrutura, que precisou ser demolida.


Entramos em contato com pessoas que fizeram parte da história do antigo prédio do CAIC, alguns funcionários e um ex-aluno falaram conosco sobre essa escola. Pedro Neto, frequentador assíduo do centro, relatou sobre a importância da escola para a sua vida e para muitos moradores do bairro.


‘’O CAIC foi muito importante para minha família, pois meus irmãos estudaram lá e foi através dessa escola, que conheci o esporte. Era muito importante para bairro, pois era um ponto de referência e muitas pessoas tiveram acesso à educação de qualidade graças a essa escola’’.

Dois ex-funcionários do CAIC contaram suas experiências durante seu período na escola. O professor de História, Luiz Bernardo da Silva, falou sobre a experiência de trabalhar neste complexo e sobre a estrutura que lhes era fornecida:


'’Foi muito gratificante, porque eu estava concluindo o curso de licenciatura em História e o meu amigo Aelson me disponibilizou essa vaga de estágio no ano de 2007. Fui muito bem recebido pelos alunos do turno da noite. Foi uma sensação indescritível. Era uma boa estrutura para sua época. Dava para trabalhar, dar as aulas. Tanto é que algumas igrejas até utilizaram a escola para fazer encontros de casais e jovens’’.


Confira mais fotos neste slideshow:


Para o professor, é uma perda para toda a comunidade que se beneficiava do que era disponibilizado através do centro. Relatou sua insatisfação em ver a situação que o colégio chegou: ‘’Foi um absurdo o governo do Estado deixar a escola chegar ao ponto que chegou. Um total descaso, não só com a comunidade estudantil, mas também com a comunidade da Zona Oeste, os jovens dessa área necessitavam, precisavam daquela escola. O projeto atual que visa reformar, revitalizar, eu acho maravilhoso. Algum gestor escolar certa vez disse: ‘Se construirmos mais escolas, não teremos tantas necessidades de construir tantos presídios’. E é isso, é preciso que haja esse investimento na educação’’.


Cristina Barbosa, trabalhou por mais de duas décadas no CAIC, desempenhou diferentes funções e relatou como era trabalhar na escola e como era sua estrutura: ‘’Foi muito bom, maravilhoso. Eles disponibilizavam dentista, sala de vacina, pediatra, entre outras coisas. Não gostei da demolição, deveriam ter ajeitado muito antes, não deveriam ter chegado ao estado que estava. A estrutura era muito boa, comecei a trabalhar lá desde a fundação, foram 24 anos trabalhando. Eu fui auxiliar de dentista, auxiliar de cozinha e fui da limpeza do colégio’’.



(Foto: Revista Restauro - Alcília Afonso, 2019)

Arquitetura: seria possível recuperar ao invés de demolir?


Entramos em contato com a professora Alcília Afonso, doutora em Projetos Arquitetônicos pela ETSAB/UPC na Espanha (2006), graduada em Arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE -1983) E coordenadora do Grupo de Pesquisa Arquitetura e Lugar (GRUPAL) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Ela nos relatou que o prédio poderia ter sido recuperado ao invés da demolição e quais medidas deveriam ter sido tomadas:


“Através de estudos foram realizadas a anamnese da obra, os estudos de danos com mapas e fichas de identificação de danos, além do direcionamento de condutas propostas no prognóstico, que foi totalmente ignorado pelo poder púbico municipal e estadual. Logo, constatamos que o conjunto poderia ter sido sim recuperado, se tivesse interesse público.

A pesquisadora também fez questão de listar as medidas que poderiam ter sido tomadas para evitar a demolição: "As decisões a serem tomadas eram simples e aqui enumero: 1) vontade política e sensibilidade em saber o valor daquela obra e tentar ver os trâmites de sua preservação; 2) contratar especialistas na área de patrimônio moderno, dialogando com as pesquisas acadêmicas desenvolvidas na UFCG e aproveitar tais estudos para viabilizar a conservação física da obra; 3) deixar em último plano os interesses econômicos de políticos, construtoras e pensar inicialmente no bem coletivo de uma população, de cidadãos que usufruíam no bairro das Malvinas daquele equipamento que foi de fundamental importância para eles e para a cidade como um todo’’, avalia a arquiteta.


Na condição de profissional da área, mas também docente e pesquisadora, Alícia reforçou sua tristeza ao ser questionada sobre seu sentimento de ver um prédio histórico e que poderia ser restaurado para servir à comunidade, ser demolido.


“O sentimento que nós pesquisadores temos em relação à demolição de mais um bem cultural campinense e paraibano é de impotência, de vergonha, por ter os políticos que não priorizam a preservação cultural, a memória coletiva, e que por motivos escusos, secundários, justificam os seus anseios pessoais e econômicos em fazer o novo, quando poderiam com mais sensibilidade e conhecimento técnico científico, preservar a cultura arquitetônica e construtiva de nossas cidades e lugares’’.

O que diz o Governo do Estado:


A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Educação do Governo da Paraíba informou que não será possível aproveitar nada da estrutura antiga do CAIC das Malvinas. A obra é considerada como sendo uma nova escola, com reconstrução total.


O governador João Azevêdo assinou a ordem de serviço no dia 06 de outubro de 2023, durante evento comemorativo do aniversário de 159 anos de Campina Grande, realizado no Centro de Formação de Educadores. A obra de reconstrução da Escola José José Jofilly deve custar cerca de R$ 10 milhões. A primeira etapa de demolição da antiga estrutura foi iniciada ainda em outubro.

Foto: Helder Guilherme

De acordo com a Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado da Paraíba(SUPLAN), órgão responsável pela obra, serão realizados ainda serviços de terraplenagem, infraestrutura, cobertura, impermeabilização, esquadrias, vidro, forro, revestimento interno/externo, pavimentação e piso, instalação elétrica, instalação sanitária, cabeamento estruturado, drenagem de aguas pluviais, climatização, instalação hidráulica, instalação de combate e incêndio, casa de gás, subestação de 225kva, entre outros.


A pintura do novo prédio será inspirada no cubismo, que é uma corrente que se caracteriza pelas formas geométricas e a incorporação de cores vivas.


NOVOS AMBIENTES

A nova estrutura da escola vai contar com os seguintes ambientes: 12 salas de aula, coordenação pedagógica, secretaria, diretoria, sala de professores, arquivo, laboratórios de informática, química, física, biologia, matemática/robótica, auditório com palco, vestiários masculino e feminino, biblioteca, cozinha, despensa, refeitório/recreio, pátio descoberto, reservatórios e portaria, além de ginásio com vestiário e depósito.


Confira mais fotos neste slideshow:

 

FICHA TÉCNICA

Monitoria: Ivaneide Santos

Supervisão editorial: Ada Guedes e Rostand Melo



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