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  • Jossandra Almeida

De narrador a personagem: a história e as obras de Efigênio Moura


Efigênio Moura e algumas de suas obras.

“Pruela, caço o arriscoso.

Pruela, nem calo nem canseira.

Pruela, desafio essa terra qui num fulora mais,

esse sol cegante essa areia fininha e quente.

Inda hoje à noite bem cedin hora das Zave Maria

róbo u'a duza de istrela.

Dô de presente a Luzia e dessa duza de istrela;

do meu presente pra ela, num vai ter u'a qui brie cuma bria os zóio dela".

(Ciço de Luzia. Um Tangerino – da vez que ele aceitou o destino).


Assim como no poema, José Efigênio Eloi Moura, escritor, radialista, formado na área de Marketing, escreve romances ambientados no Cariri paraibano e ganha destaque pela valorização linguística e cultural de suas obras.


Concebido em Monteiro no dia 19 de março de 1965, dia de São José, “laçado” pelo cordão umbilical, não tinha como fugir do nome José. Sua tia e parteira Antônia Elói logo falou “se num colocar o nome Zé o menino não sobrevive” já que no Nordeste existe uma antiga lenda de que ao nascer com o cordão umbilical enrolado ao pescoço o recém-nascido estaria sentenciado a uma morte horrível por afogamento. E precisaria receber o nome de José, ou Maria José, se menina, para ser consagrado e protegido pelo santo. Mas não foi só do padroeiro dos trabalhadores que ele herdou o nome, seu avô Efigênio Teixeira de Moura também ganhou um espaço na sua identidade.


Seu avô morreu em 1966, um ano após seu nascimento. Mesmo sem conviverem, de Efigênio a Efigênio muitos legados foram passados. Após ouvir o poema "Zefa" de seu avô, ele percebeu o quanto a escrita deles eram similares, e então, passou a enxergá-lo como a sua maior inspiração e referência. E da indagação desse poema, surgiu o seu quarto livro “caderneta de fiados” uma homenagem ao ancestral que lhe compartilhou a veia literária. O seu pai gostava muito de poesia, mas não levava jeito. Já sua mãe não tinha tanta afeição a leitura, mas tinha uma memória preciosa de sua infância, e foi ela que sugeriu vários nomes de seus personagens.


Efigênio Moura e seu nono livro 'Siá Filiça'.

Por ser filho de um agente fiscal, Efigênio não demorava em uma cidade e desbravou a Paraíba como ninguém. Nasceu em Monteiro, com 1 ano de idade foi morar em Patos, depois passou por São Sebastião do Umbuzeiro e voltou para Monteiro. Em 1971 morou em Desterro, depois Taperoá, onde viveu a infância, chegando aos 6 anos de idade e vivendo lá por 8 anos. A seguir foi para João Pessoa, passou por São Mamede e voltou para Patos, onde exerceu sua primeira profissão, vigilante de banco. O pai de Efigênio faleceu em 1991 e ele foi morar em Itabaiana com a mãe, mas logo voltou a João Pessoa para trabalhar como radialista e diretor comercial. Teve uma passagem por Santa Luzia, até se casar com Paula e fixar residência há 15 anos em Campina Grande, e durante esse período deu início a sua carreira literária.


O romancista começou escrevendo poemas marginais, enquanto trabalhava como vigilante de banco. Poesias marginais são aquelas que não obedecem a uma métrica e uma rima, mas que tem uma lógica. Muito tempo depois participou de um concurso em João Pessoa, com o conto da peleja, que fez ao ver uma cena tragicômica de uma mulher esbaforida pelejando para subir a Ladeira da Borborema. Acabou sendo reprovado no concurso, por seu conto ter duas laudas a mais que o permitido. Mas foi da continuidade desse conto que surgiu ‘Eita Gota! Uma Viagem Paraibana’, o seu primeiro livro.


Assim como os “zóio” de Luzia “briavam” os de Efigênio Moura também “bria” ao escrever sobre a sua região, em descrever as ruas, as estradas, a poeira, as casas, o calor, as plantas, as festividades e tradições da sua terra. De representar a fala do caririzeiro, do homem do campo, como ela de fato é. De priorizar suas origens e de levar o cenário nordestino ao Brasil a fora.


CONHEÇA AS OBRAS DE EFIGÊNIO MOURA


‘Eita Gota! Uma Viagem Paraibana’ é uma comédia romanciada, que liga as igrejas de nossa senhora das Neves de João Pessoa e a igreja Nossa das Dores de Monteiro. Conta a história de uma viagem pelas cidades do Cariri, com trasporte, mercadoria, passageiro e motorista irregular.




'Ciço de Luzia’ é a obra mais reconhecida de Efigênio Moura, foi posta na condição de vestibular e é trabalhada em escolas. Conta a história de um romance ingênuo e inocente ambientado nos anos 70. Reforça a força do caririzeiro, da palavra, do compromisso e da família.





‘Santana do Congo’ é uma comédia dividida em três partes, começa no comércio de Ouro velho, passa pela Prata e finda no Congo, na festa de Santana. O livro é uma homenagem a Osmando Silva.






‘Caderneta de Fiados’ conta a história de Zefa. Que passa a vida inteira procurando sentido da palavra “amor” pois sempre foi jurada por tal palavra mas nunca lhe entregaram de fato. E ela usa uma cadernetinha que era pra ser do pão e faz um diário, anotando tudo que lhe prometeram e não cumpriram, um fiado de vida.



'Apurados de Contos’ reúne um compilado de contos cômicos do Cariri. Como o dia que mataram Bin Laden em Monteiro, o sequestro de Coxixola, entre outros.





‘Pedro Jeremias’ é uma trilogia, dividida em Cariris velhos da Paraíba e Cariri novos. Em suma, conta a história de um cangaço pós-Lampião, onde Pedro Jeremias, ao lado de Corisco, na hora da morte de Lampião, quer sair do Cangaço, mas antes ele quer entregar as armas a Padre Cícero, colocando-as em cima de sua cova. Conta com vários fatos históricos do Nordeste, como o primeiro campo de concentração em Fortaleza, a seca de 15, os coronéis e a perseguição ao candomblé.


‘Siá Filiça’ foi inspirado na música composta por Bira Marcolino e Fátima Marcolino. Fala sobre algo abstrato, a saudade e a lembrança. Além de retratar a alegria e as tradições do São João.





‘Chã de Umbuzeiro’ é uma homenagem a São Sebastião do Umbuzeiro. Se passa na cheia de 2020 e fala sobre os raízeiros, os judeus do

nordeste e os tropeiros da Borborema.






'Sertão de Bodocongó’ fala sobre os pecados dos homens, da soberba, da arrogância e da vida. Além de retratar a simbologia do Cariri.







Fotos das capas: reprodução/EfigênioMoura



Confira mais imagens no slideshow:

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FICHA TÉCNICA

Produção de pauta e entrevista: Jossandra Almeida

Produção de texto: Jossandra Almeida

Supervisão Editorial: Rostand Melo e Ada Guedes



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