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  • Joelson Araújo, Matheus Farias

"Enquanto puder falar, não paro: isso aqui é um sonho": Ida Steinmüller


Para cego ver: Na imagem Ida Steinmüller , diretora de honra do Instituto histórico, com a mão sobre o púlpito e ao fundo algumas bandeiras.
Maria Ida Steinmüller. Presidente de honra do IHCG. Foto: Joelson Araújo

Maria Ida Steinmüller: Presidente de Honra do Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG), pesquisadora, professora, historiadora. Ela é chamada pelas pessoas de muitas formas que evocam sua inteligência e vontade de aprender. Na verdade, não é professora de formação. Mas ensina com um dom fantástico que capta de uma forma divina a atenção dos que a estão ouvindo, pois fala com amor sobre a "Rainha da Borborema". Esse amor conquista, arrebata e transcende essa descendente de austríacos de tal maneira que ela fundou um instituto para compartilhar com todo o mundo o orgulho que possui pela sua cidade natal.


‘’O que eu faço por Campina é pouco, mas faço com muito amor. Quando eu me aposentei não podia jamais pensar em ficar parada. Tem muita coisa para fazer ainda: isso aqui é um sonho.’’

Primeira filha da família a nascer em Campina Grande, Ida carrega consigo a característica de ser uma pessoa ‘’realista esperançosa’’ (expressão criada pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna), ou seja, ela reconhece as dificuldades que o seu Instituto passa, mas não perde a esperança de dias melhores. Seu pai também era assim:


’Meu pai trabalhava em um moinho de trigo na Europa, mas ele não via melhoria de vida, embora minha mãe não reclamasse de nada. Foi aí, quando minha mãe disse que minha família tinha uma propriedade no Brasil, mais precisamente em Recife. Esse terreno foi dado pelo meu avô adotivo e meu pai foi a Pernambuco ver a propriedade.’’

Ao chegar em Recife, descobre que o terreno já foi vendido, mas o senhor que o comprou deu ao pai de Ida uma recompensa que o fez enxergar as possibilidades de crescimento profissional que teria abaixo da linha do Equador. Sua esposa, porém, apesar de inteligente e perspicaz, não se adapta bem ao idioma português e tem muita dificuldade com o clima. A partir daí, o senhor Steinmüller ouve falar de uma cidade com temperaturas amenas: Campina Grande.


‘’Ele foi para a cidade e encantou-se com a vocação comercial da cidade decidindo, portanto, mudar-se para a rainha da Borborema a fim de desenvolver aqui a sua profissão de mestre salsicheiro. Volta para Recife para buscar minha família, mas já saiu de Campina deixando alugado o ponto onde hoje é o Chopp do Alemão.’’

Inicialmente, vender produtos embutidos foi difícil, pois não era um alimento comum no interior nordestino. Mas, ao ver pessoas comendo petiscos acompanhados de doses de cachaça na feira central, o pai de Ida tem a ideia de vender Chopp com linguiça, salsicha e outros produtos que fabricava, os quais foram conquistando o paladar dos campinenses.


A família Steinmüller, porém, não conquistou somente o paladar, mas o coração dos habitantes da ‘’Chicago do Sertão’’, como Assis Chateaubriand chamava Campina Grande. Isso porque havia uma enorme lacuna na divulgação dos ricos fatos históricos da cidade para as novas e futuras gerações afinal um povo que não conhece sua história está fadado a reproduzir relações de poder que oprimem sobretudo os mais desfavorecidos.


Confira mais imagens no slideshow:


Ida percebeu essa riqueza quando se deparou com o acervo historiográfico de seu sogro: o ex-prefeito de Campina, Dr. Elpídio de Almeida:


“Comecei a pegar algumas coisas que eu via do acervo dele e comecei a juntar fotografias, documentos até que essa história dá um salto. Foram 20 anos e esse acervo ficara guardado dentro de um quartinho na minha casa, vez em quando eu olhava se estava entrando água, mas eu não mexia nesses documentos’’.

Mas para tudo existe o tempo certo na vida: ”Com a doença do meu marido, Humberto, foram 5 anos que eu via aquela evolução da doença e não havia retroativa. Eu estava preocupada, aí um dia ele deu o sinal verde para transferirmos o acervo para um outro local e no dia seguinte já tinha um caminhão da Cande, da nossa empresa, e uma bateria de pessoas carregando os mais de 5 mil livros.’’ Com frequência, ela ia olhar fotografias, documentos do acervo: era seu ponto de fuga. Dentre esses materiais estava o raríssimo livro “História de Campina Grande’’ escrito e revisado por Elpídio.


A pretensão de Ida era apenas tornar público esse acervo através de uma exposição organizada por profissionais especializados na preservação de patrimônios históricos. Foi com esse objetivo que ela foi ao V Colóquio dos Institutos Históricos Brasileiros, mas saiu de lá com a intenção de fazer muito mais por Campina por meio da refundação de um instituto criado originalmente por seu sogro.



Quem vê o reconhecimento e a credibilidade do IHCG hoje nem imagina o processo longo para chegar até aqui:


’Muito investimento já foi feito aqui sem ajuda de ninguém, mas essas pessoas já começaram a nos ajudar com campanhas a formar esse grupo. Então é um grupo que trabalha de forma voluntária e acho que é a forma mais honesta de prestar um serviço para a sociedade. É um trabalho de retorno, para Campina Grande que merece muito mais.’’

O local desejado para ser a primeira sede do instituto foi boicotado e Ida, juntamente com seu amigo o professor Vanderley de Brito, buscaram uma nova sede sendo escolhido o terceiro andar do prédio da municipalidade, onde funciona a Biblioteca Municipal de Campina Grande, no centro da cidade. Começa então o trabalho de transferência do acervo para o novo local e uma reforma para acomodar os materiais do Instituto de forma adequada.


Esse foi um trabalho dinâmico. Aliás, dinamicidade e pioneirismo são marcas importantes na trajetória de Ida Steinmüller, uma vez que ela fez parte da primeira turma de auxiliar de escritório do SENAI, organizou e presidiu a associação de secretárias da Paraíba, juntamente com outras secretárias, além de participar, juntamente com a professora Juciene Ricarte, do projeto "Fascículos Campina Grande: 150 anos à frente’’ publicado no Jornal da Paraíba em 2014, ano do sesquicentenário de Campina.


Outra importante contribuição de Ida que foi feita em parceria com o professor Vanderley de Brito é o livro ‘’ História de Campina Grande: de aldeia a metrópole’’. Essa obra é resultado de três anos de pesquisa e aborda de forma lúdica, rica em mapas, desenhos e charges a história de Campina Grande. Foi feito para toda a sociedade campinense, já que não fala só das personalidades políticas ou empresariais. Ida fez questão de falar do’’ homem comum’’ que também faz parte da história do município.


Ida, portanto, tem paixão pela causa e herdou o legado de Elpídio de Almeida, tornando-se digna do título de Presidente de Honra. Para o povo de Campina é uma honra tê-la como guardiã da memória dessa cidade grande por natureza, afinal Ida é como a Rainha da Borborema: altaneira, pioneira e fonte de paz.


Para cego ver: Na imagem vemos Ida, sorrindo em frente a uma estante de livros
Foto: Joelson Araújo
 

FICHA TÉCNICA:

Entrevista e texto: Matheus Farias, Joelson Araújo

Fotografia e edição: Joelson Araújo

Supervisão editorial: Ada Guedes, Rostand Melo

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