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Inspiração no movimento: Entrevista com Ideval Santos

  • Foto do escritor: JANAINA ARAUJO SOUSA
    JANAINA ARAUJO SOUSA
  • 12 de jun.
  • 6 min de leitura
Foto: Janaina Sousa
Foto: Janaina Sousa

A cultura nordestina é conhecida por sua pluralidade. A cidade de Campina Grande ganha destaque quando se trata de festa junina, festivais de quadrilhas/folclóricos e danças tradicionais, como: xaxado e forró. Apesar de toda essa riqueza cultural, existe a desvalorização.


Ativistas, fazedores de cultura e artistas têm contribuído para a preservação das manifestações e produtos culturais mesmo diante da desvalorização do poder público, na falta de apoio com verbas e iniciativas para tais grupos. Em meio a essa problemática, existem aqueles que lutam todos os dias para manter as tradições locais.


Ideval Santos, 40, é graduando em Educação Física na Universidade Estadual da Paraíba-UEPB. Dançarino em Bandas de Forró e Fanfarras, grupos Folclóricos e Quadrilheiro, ele é natural de Campina Grande-PB e iniciou sua trajetória na dança aos 14 anos. Desenvolve um projeto Social de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, com a inclusão de idosos, crianças/adolescentes e mães de família. “Trabalhar a dança com esse grupo de pessoas, é oferecer bem-estar e refúgio” diz Ideval.


O projeto, tem como objetivo acolher crianças/adolescentes que sofrem com algum tipo de abuso em casa. Idosas que por muitas vezes tem problemas com depressão e mães que perderam sua autoestima.

Nossa equipe foi até Ideval para realizar uma entrevista e conhecer um pouco mais sobre sua história e essa paixão pela dança. Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Foto: Daniel Gomes
Foto: Daniel Gomes

Como foi seu primeiro contato com a Dança? O que despertou seu interesse?


Meu primeiro contato com a dança, foi na escola onde estudava, José Miguel Leão. Lá tinha um grupo de aeróbica, mas apenas meninas podiam participar. Então certa vez precisou-se fazer uma apresentação nos jogos internos e teve a necessidade de se colocar homens na dança, esse foi meu primeiro contato. Depois disso, fui para uma escola particular em São José da Mata, Escola Cenecista (CNEC). Pessoas que tinham habilidade com a dança ou em alguma outra coisa, recebiam uma bolsa. Lá entrei para a Fanfarra e comecei a ter aulas de danças Folclóricas. Desde então, permaneci focado em grupos e nunca mais parei de dançar.

Há alguns anos a sociedade tinha uma forma muito distinta da atual de agir e pensar. Existia discriminação com homens que optavam por construir uma carreira na dança e em algumas outras áreas. Como sua família reagiu a essa escolha?


Não acho que existia, ainda existe. Muitas vezes saímos para uma apresentação e somos recebidos com um olhar diferente e piadas, por ser dançarino homem e tudo mais. No início da carreira muitas pessoas chegaram para meus pais me julgando por ser dançarino e minha mãe sempre defendia dizendo “não vejo nenhum problema em ele ser dançarino, é melhor ser dançarino do que viver em rua, aprontando o que não deve”. Venho de uma família muito consciente, meus pais sabem o filho que tem e eu sempre os respeitei, sempre busquei isso para que eles nunca passassem vergonha alguma a respeito da minha pessoa. Qualquer homem pode dançar, qualquer homem pode fazer o que quiser, independe da sua sexualidade. Não existe restrição, principalmente na dança.

De quais formas a dança ajudou e contribuiu na sua vida social, profissional e financeira?

Eu era uma pessoa tímida, tinha vergonha de tudo, até de falar, assim que comecei a me desenvolver como dançarino, passei a me soltar mais. Tudo que eu tenho, devo a dança, tive ótimos profissionais que me ajudaram nessa jornada. Uma das profissionais que posso citar foi Maria, minha primeira coreógrafa da CNEC, e Marissandra, do grupo de dança. Atualmente, tenho uma pessoa que me ajuda muito e sou muito grato, que é o Gerson Brito, presidente dos Tropeiros da Borborema. No lado financeiro, não tenho o que reclamar, tudo são conquistas, comecei ganhando 30,00 R$. Na época era pouquinho, mas nunca desisti. Eu vivo de metas e tenho que correr atrás dos meus objetivos, eles não caem do céu.

No universo artístico, independente da área, sempre surge alguém que se torna referência. Você tem essa pessoa? Quem? Por que?

Sempre tem sim, uma pessoa ou mais de uma. Como minha maior vivência na dança é em bandas, uma das minhas maiores referências, apesar de não dançar mais, é o Erick que dançava na Limão com Mel. Outra pessoa que tenho como referência para mim, certeza que para ele será uma surpresa, é o Ricardo Adriano daqui da cidade de Campina Grande, ele é uma referência em termo de dança e personalidade. Somos bem parecidos nisso, gostamos de desafios.

Teve alguma dificuldade? Pensou alguma vez em desistir?

Dificuldades sempre tem, em todos os momentos da vida. Apesar disso, nunca pensei em desistir, pois era algo que eu queria e almejava muito para minha vida. Claro que existem coisas que acontecem como aprendizado, passei muitos perrengues, principalmente quando trabalhava em bandas de forró. Mas, quando a gente ama e coloca nossos objetivos à frente desses obstáculos, pensando sempre nas coisas que desejamos conquistar, as dificuldades se tornam pequenas. Muito do que tenho e sou hoje, foi a dança que me proporcionou.

Como foi a experiência trabalhando com diferentes ritmos, grupos e bandas de Forró?

Essa diversidade vivida só acrescentou na minha vida como dançarino profissional. Tudo é dança e na visão de alguns pode parecer a mesma coisa, mas cada um tem o seu perfil. Em Bandas de Forró por exemplo, você precisa estar bem, esteticamente e fisicamente. Nas Bandas Fanfarras, é uma energia completamente diferente, pois existe um contato e uma troca maior com o público nas avenidas. Os grupos Folclóricos, são danças mais pesadas, com muito impacto. Sem falar que é uma experiência muito boa, pois resgata a Cultura Nordestina Paraibana, que está cada vez mais fragilizada pela falta de valorização. Já as Quadrilhas, é muito diferente de tudo, pois você tem que cantar, sorrir, interagir com seu par e o com o público, a cada apresentação há uma emoção diferente.


Foto: Gersyka Oliveira
Foto: Gersyka Oliveira

Você trabalha em um projeto social que envolve mais de 80 idosas. O que te fez querer dar mais atenção e visibilidade a esse grupo de pessoas?

Comecei dando uma aula de dança para essas senhoras e a princípio seria apenas um momento. Então elas pediram para que tivesse mais uma, assim eu e a gestora percebemos que elas tinham a necessidade dessas aulas. Hoje em dia para você dar aula de dança, você precisa ter uma energia boa, positiva, precisa transmitir aos alunos alegria. Trabalhamos muito sobre a questão da prevenção, percebemos que algumas eram depressivas, outras não praticavam nenhuma atividade física. Foi quando eu comecei a ter um olhar diferente para elas e mostrar que independente da idade, elas poderiam chegar onde queriam. O mais gratificante é poder terminar a aula e ver cada uma delas com um sorriso “de canto a canto” na boca e perguntando sobre a próxima aula.

Crianças que sofreram abuso em casa e mães de família também estão inclusas nesse projeto. Como a dança vem ajudando e contribuindo na qualidade de vida dessas pessoas?

A dança tem uma contribuição grande na vida dessas crianças, adolescentes e da própria família. Sempre que notamos alguma criança com dificuldade no aprendizado e na comunicação e já temos conhecimento do histórico de vida dela e da família, procuramos buscar uma forma de elevar a autoestimas. É difícil, mas conseguimos transformar a vida de 60% desses adolescentes e colocando assim, elas em uma zona de mais conforto.

Fazendo essa retrospectiva de sua vida, qual foi o momento mais feliz da sua trajetória até hoje? Sente que chegou onde queria?

Eu tive muitos momentos felizes, mas destaco que foi poder conquistar o público que eu tenho hoje. Independente de onde eu esteja dançando, chegar em um lugar e ser reconhecido, não tem preço. Não acho que cheguei onde queria, por que sempre tenho procurado inovações, o mundo da dança é isso. Sempre vou procurar esse diferencial, para dar o melhor de mim no palco, nas avenidas e nos tablados.

Participando de tantos grupos e atividades culturais, realizando trabalhos sociais. Como Ideval se ver no futuro?

O meu futuro à Deus pertence, com tudo que venho realizando e com esses trabalhos sociais, espero que no meu futuro eu esteja bem comigo mesmo, com as pessoas, isso é o mais importante. Quero chegar na minha velhice e encontrar pessoas fazendo o que eu já fiz, quero ser espelho para outras pessoas. Se daqui a alguns anos eu encontrar, alguma dessas crianças e adolescentes ministrando aulas de dança para mim, será muito gratificante. Serei muito grato, já sou por toda minha trajetória, pelas bandas de forró que já participei, grupos folclóricos e quadrilhas.

foto: Daniel Gomes
foto: Daniel Gomes

Foto: Daniel Gomes
Foto: Daniel Gomes


Foto: Gersyka Oliveira
Foto: Gersyka Oliveira

Foto: Bruno César
Foto: Bruno César



Foto: Gersyka Oliveira
Foto: Gersyka Oliveira

Foto: Bruno César
Foto: Bruno César

Foto: Janaina Sousa
Foto: Janaina Sousa

Foto: Gersyka Oliveira
Foto: Gersyka Oliveira

Foto: Janaina Sousa
Foto: Janaina Sousa

Foto: Bruno César
Foto: Bruno César
Expediente

Texto e Edição: Gersyka Oliveira

Monitoria: Estér Bezerra

Supervisão Editorial: Ada Guedes e Rostand Melo

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