A essência do fisiculturismo: uma perspectiva com Ihago Vinícius
O esporte no Brasil começou a ganhar destaque entre a década de 70 e 80, com atletas como Serguei Tchepikov e Edson Prado. Com o passar dos anos o esporte ganhou popularidade entre os brasileiros, e atualmente o Brasil é conhecido como uma potência no fisiculturismo, trazendo grandes nomes como Eduardo Corrêa e Eva Andressa.
Na Paraíba o maior foco do fisiculturismo é em João Pessoa, onde há um investimento muito forte de federações de fisiculturismo como a Muscelcontest, e a CBCM, oferecendo oportunidades em campeonatos locais para vários atletas que sonham em entrar nesse meio.
Em Campina Grande o esporte ainda não se firmou. Contudo, as iniciativas têm acontecido como campeonatos realizados pela IFBB (International Fitness And Bodybuilding Federation), maior federação de fisiculturismo mundial, trazendo assim mais visibilidade para a modalidade no estado da Paraíba e fortalecendo o esporte cada vez mais na Rainha da Borborema.
Ihago Vinícius Guedes Costa - advogado e fisiculturista - conheceu o fisiculturismo e descobriu uma nova paixão. Quando percebeu que o esporte estava sendo reconhecido aqui na Paraíba e havia uma oportunidade de competir, aos 23 anos decidiu se inscrever no seu primeiro campeonato. Nesta entrevista ele relata como está sendo essa jornada, sua preparação e algumas curiosidades sobre o fisiculturismo.
O que o levou a fazer fisiculturismo?
Bom, eu sempre fui um moleque gordinho, sofri muito bullying por causa do meu corpo, e sempre me senti muito mal. Também sou obcecado com tudo que eu começo, e muito competitivo, então quando entrei na musculação, busquei me informar da melhor forma possível sobre treino, dieta, suplementação a partir dos atletas do fisiculturismo. A partir deles eu pude me inspirar e aprender sobre tudo que circunda ali, e ai foi uma paixão que foi crescendo. Na metade de 2023, eu percebi que o cenário do fisiculturismo estava crescendo muito e havia muita oportunidade de competir por aqui, coisa que antes não existia, e como eu já era muito apaixonado por influência dos meus ídolos do esporte, eu acabei tomando a decisão de iniciar uma preparação.
Quais são as suas inspirações no fisiculturismo?
Acho que a primeira inspiração de todo atleta é o Arnold Schwarzenegger, ele é uma inspiração de vida para mim. Outro atleta que me inspiro é o Dorian Yates, 6 vezes Mr.Olympian. No Brasil, o primeiro que eu me inspirei foi Felipe Franco, ele com certeza abriu portas para a chegada do fisiculturismo no nosso país, depois surgiram outros nomes como Fernando Sardinha, Rafael Brandão e Ramon Dino.
Como desenvolveu sua rotina de treino ao longo do tempo?
Minha rotina de treinamento variou bastante conforme eu estudava a fisiologia do treinamento em si. Então, entendi que existem vários caminhos para se alcançar o físico perfeito, ou a sua melhor versão, e foi estudando métodos de treinamento que eu pude desenvolver meu próprio método de treino, que eu acabo trocando ali de três em três meses, ou de seis em seis meses, com base na periodização que eu estou fazendo. Mas primordialmente, foi de forma autodidata mesmo, com base nos atletas que eu me inspiro.
Você está atualmente trabalhando com algum treinador pessoal ou personal trainer para alcançar seus objetivos de condicionamento físico, saúde ou desempenho esportivo?
Atualmente eu estou trabalhando com Ramon Pereira, ele é um atleta de fisiculturismo aqui da Paraíba, e também é um streamer. Se dispôs a me ajudar na minha preparação, e é ele que me passa treino e dieta.
Qual a abordagem específica em relação a sua dieta, para otimizar o ganho de massa muscular e a definição corporal durante a preparação para uma competição?
O início da preparação contou com uma oferta de carboidratos muito boa, uma oferta de proteínas 2 grama quilo, por quilo corporal, e ai com o passar do tempo, com a chegada do campeonato, esse carboidrato vai reduzindo para que o nível de gordura vá reduzindo junto, o sódio da mesma forma. O sódio já inicia baixo - mas ele precisa baixar cada vez mais para reduzir ali o nível de retenção hídrica, e ai na última semana antes do campeonato, se insere o que se chama de desidratação, onde o atleta vai passar 24 horas sem beber água, até mais ou um pouco menos, a depender da resposta do físico. E com base no condicionamento do físico - na secura do físico - se inicia o que se chama de carb up, que é a entrada de carboidrato para encher o físico, quando o atleta vai começar a subir o consumo de carboidratos, isso uns dois dias antes do campeonato para que ele chegue com o melhor condicionamento, o melhor preenchimento muscular.
Todo o preparo, a alimentação, suplementos, acompanhamentos, há um investimento alto. O que tanto está incluído e quanto se gasta? Patrocínio existe? É fácil ou difícil de conseguir?
O investimento de uma preparação é consideravelmente alto, primeiramente se você tem um preparador físico que te cobra mensalmente, médico, exames, a comida tem um custo muito alto, porque o nível de proteína é muito alto, então é preciso dinheiro, já que proteína é um dos alimentos mais caros do mercado. Farmacológicos também,
você precisa comprar bastante coisa em farmácia, o que dá uma elevada no preço. Os fitoterápicos que se gasta, são todos gastos muito constantes, toda semana tem que está comprando alguma coisa assim. E ai o gasto com esteróide anabolizante, o gasto com suplementação - creatina, whey, glute vitamínico. Tem também o gasto com a inscrição do campeonato, que não é barata, os próprios produtores do evento desembolsam do dinheiro deles para tentar fazer o campeonato acontecer, então há o custo da inscrição, da pintura, da sunga. O patrocínio existe, não é muito fácil de conseguir, porque depende unicamente da sua relevância em redes sociais, do quanto você consegue reverter aquele patrocínio em lucro para a empresa, então você tem que ter alguma base de mídia social ali para desenvolver algum patrocínio, mas também não é impossível.
Você citou o gasto com esteróides andrógenos e anabolizantes e sabemos que eles são bastante utilizados nesse meio. Na sua opinião, quais são os cuidados necessários para o uso responsável de substâncias como estas?
Primeiramente entender que não existe "quanto mais melhor", não existe quanto maior o uso, melhor o físico, isso vai da sua resposta genética, e se você não tem genética para desenvolver um grande físico, não é tomando mais que vai conseguir. Então é preciso ser responsável, saber os limites do seu corpo, precisa está fazendo acompanhamento com exame médicos e conversando com pessoas que passaram pelo processo.
Enquanto você adentrava no mundo do fisiculturismo, alguns desafios marcaram a sua jornada? Como você consegue conciliar a vida pessoal e profissional com os rigorosos treinos?
Com certeza os desafios que marcam todo atleta iniciante me marcaram também, a dificuldade da dieta, de manter a alta intensidade dos treinos, alta intensidade do cardio enquanto você come pouco. Graças a Deus eu tive muito apoio dos meus amigos, da minha família, mas essa dificuldade que é a de se manter em déficit calórico constante, mantendo a alta intensidade foi um dos principais desafios. Sobre conciliar minha vida pessoal com os treinos, é outro desafio porque principalmente na dieta que se faz antes de competir, o baixo nível de carboidrato causa um embotamento social muito grande, por muitas vezes dá vontade de se isolar, é difícil sair de casa, é difícil socializar, mas eu tento me forçar para não enlouquecer.
A ascensão do fisiculturismo no país está sendo implementada de maneira correta?
Com toda a certeza o fisiculturismo brasileiro está no caminho correto. Com a chegada da Muscelcontest (Federação Internacional de Fisiculturismo) no Brasil e com as empresas patrocinando os eventos e os atletas, nós estamos tendo um "boom" muito grande. O gerenciamento do fisiculturismo brasileiro cresce a cada ano graças aos esforços internacionais, da federação, dos atletas, dos influenciadores e de toda uma rede.
Você considera que as autoridades esportivas e os órgãos governamentais têm apoiado o crescimento e desenvolvimento do fisiculturismo na Paraíba?
Infelizmente por parte do governo não temos muito incentivo. O crescimento do fisiculturismo nordestino tá vindo mais por parte dos organizadores dos eventos que são apaixonados pelo esporte e estão se dispondo a colocar o dinheiro na mesa para fazer acontecer. O governo mesmo, estadual, municipal, federal não têm nenhuma proposta de incentivo ao esporte, apesar de já haver deputados, como o próprio Felipe Franco, que estão desenvolvendo programas de bolsas para atletas. Mas principalmente aqui no Nordeste nós não temos nenhum incentivo governamental.
A sociedade em geral valoriza e reconhece a importância da modalidade? Como você acha que é a visão das pessoas em relação ao fisiculturismo?
O fisiculturismo era um tabu até uns anos atrás, é muito novo esse "boom" do esporte, ocasionado aí pelas grandes marcas, pelos grandes influenciadores. Mas hoje em dia o cenário é bem favorável para quem quer ingressar no fisiculturismo. Nós temos grandes empresas patrocinando atletas, temos o interesse público muito maior do que já foi. Recentemente tivemos o Night of Champions em Recife, com 17 mil pessoas em uma live stream, na transmissão ao vivo, então apesar de haver muito tabu ainda, tem se formado um respeito maior pelo esporte.
Qual seu ponto de vista sobre a representação feminina no mundo do fisiculturismo atualmente? Acredita que as mulheres estão recebendo o reconhecimento e a visibilidade que merecem nesse esporte?
O cenário feminino no fisiculturismo no Brasil, sempre foi fantástico. Nós temos quatro Mrs.Olympians na categoria Wellness, duas Mrs.Olympians na categoria biquíni, temos Mrs.Olympians da categoria Woman's Physique. Infelizmente ainda não recebem o reconhecimento que merecem no esporte, mas isso também é um cenário que está mudando, hoje em dia por exemplo, no próprio Mr.Olympian, a Classic Physique, e a categoria Wellness recebem a mesma premiação, então acredito que pouco a pouco as mulheres estão alcançando o seu lugar de respeito no fisiculturismo.
Além do campeonato em que está atualmente focado, você já tem planos ou está considerando participar de outros eventos ou competições de fisiculturismo em um futuro próximo? Quais são suas metas no esporte?
Sinceramente após o Japam Gladiators eu não tenho nenhum campeonato em mente. Eu tenho em mente fazer uma dieta de bulking, no caso, elevar o meu nível de calorias no meu físico para tentar adicionar massa muscular. Sobre minhas metas, com esse bulking eu pretendo atingir cerca de 100 a 105 quilos, e com isso tentar verificar até onde eu consigo adicionar massa muscular no meu físico para saber se eu consigo ser mais competitivo.
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Algum plano para conseguir patrocinadores, caso haja alguma competição futura que te desperte interesse?
Eu estou tentando seguir o caminho da produção de conteúdo nas redes sociais, e pretendo sim, angariar patrocínios, ainda que não seja para competir, mas pela intenção do conteúdo, ajudar pessoas a desenvolver seu físico, sua mente, talvez até mesmo através de consultorias. Eu pretendo sim, tentar conseguir algum patrocínio, conseguir alguém que acredite no esporte, que acredite no potencial que eu tenho.
Você demonstrou um certo interesse em realizar consultorias, se seguir adiante com essa ideia, já tem algum plano de como poderá promover e comercializar sua consultoria para atrair clientes em potencial?
Eu tenho um sonho de montar uma equipe de consultoria, ajudar pessoas a mudarem o físico. Eu adoro ensinar e adoro o fisiculturismo, então uma coisa leva a outra. Planejo utilizar o campeonato, minha evolução física e das pessoas que eu ajudo como portfólio para tentar montar minha equipe e quem sabe no futuro, desenvolver esse time.
Agora para finalizar, quais conselhos você pode dar para os iniciantes no mundo do fisiculturismo?
Informação. Buscar informação com quem já passou pelo processo, com quem trabalha com isso. Cuidar da sua própria saúde, para evitar complicações durante a dieta de preparação, e se circundar do próprio fisiculturismo, ouvir podcast, ouvir outros atletas, ouvir pessoas em preparação que estão passando pelo mesmo processo, até para você não acabar se sentindo sozinho. Isso seria o principal.
EXPEDIENTE :
Produção Textual: Maria Eduarda Silva, Eduarda Alves e Vitoria Oliveira
Entrevista: Melissa Almeida e Gustavo Calixto
Edição: Melissa Almeida e Vitória Oliveira
Monitoria: Briza Cunha e Ivaneide Santos
Supervisão Editorial: Ada Guedes e Rostand Melo
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