O doce artesanal é vendido pelas ruas de Campina Grande, no interior da Paraíba
Sobe rua e desce rua. Essa é a rotina de Seu Batista, como prefere ser chamado. Com 71 anos, há dez dedica-se à produção e venda de cocadas, doce tradicionalmente conhecido no Brasil e comercializado principalmente no Nordeste. Nesse cotidiano, percebe-se uma representatividade cheia de marcas culturais: o vendedor, homem negro, nordestino e o doce de origens africanas, que era feito pelas mulheres escravizadas e utilizavam um ingrediente bastante encontrado na Bahia: o coco.
Morador do bairro Rosa Mística, localizado na zona norte de Campina Grande (PB), Seu Batista antes de pensar em empreender, levava a vida como ajudante de pintor em uma metalúrgica. Profissão que durante 26 anos garantiu o sustento da família.
Atualmente aposentado, morando apenas com sua esposa, Lourdes, relata que seu filho mora em Minas Gerais e sua filha em Brasília e há quase 20 anos não os veem. Conta que após se aposentar, não queria ficar apenas em casa realizando as obrigações do lar, o que lhe despertou a vontade de empreender em algo que sentisse satisfação em trabalhar.
“Depois de me aposentar, eu não queria ficar parado e foi com a venda das cocadas que encontrei uma solução. São justamente elas que me fazem ter uma satisfação no final do dia e me ajudam a complementar a renda de casa’’
Da vontade de empreender e dos encontros cotidianos da vida, Seu Batista notou sua vizinha fazendo cocadas e pediu-lhe ajuda para aprender a preparar os doces. Ao lembrar do início das vendas, contou que "apanhou um pouco" para conseguir acertar o ponto da receita, mas, ao notar que estava dando certo sentiu- se motivado e não parou mais sua produção.
Entusiasmado com o relato, revela o prazer que tem em produzir e vender: “para mim é uma terapia", afirma Batista em tom de alegria. De acordo com o vendedor, a produção e venda das cocadas são realizadas a cada oito dias e durante esse período, são produzidas cerca de 300 unidades que são comercializadas no bairro onde mora e na feira central de Campina Grande.
“Faço porque gosto e faço por amor, por isso continuo vendendo as minhas cocadas, mesmo que eu já tenha certa idade”
Com a chegada da pandemia e do aumento expressivo dos casos da Covid-19, seu Batista adotou todas as medidas de prevenção para manter as vendas, tomando cuidado redobrado na preparação das cocadas. Ao sair para as vendas manteve a utilização da máscara e álcool em gel, informa que tomou todas as vacinas contra a Covid-19 e não deixou de se proteger até o momento.
Seu Batista conta que durante esses anos em que vende seus doces, acabou enfrentando um problema de saúde ao contrair uma bactéria no pé enquanto trabalhava na rua, o que o levou a passar por uma delicada recuperação e impossibilitou a atividade por um tempo. Além deste infortúnio, nada mais foi motivo para Batista parar de fazer o que tanto gosta.
“Já pedi para ele dar um tempo com a produção das cocadas, já que somos apenas nós dois e com o que ganhamos conseguimos suprir nossas necessidades, mas ele insiste em trabalhar e fazer o que gosta”, conta Lourdes, esposa de Seu Batista há 51 anos.
Após a recuperação, ele retornou com a comercialização da “Cocada Nº 1", maneira como os clientes fiéis definem o doce feito com tanto carinho. Com muita força de vontade e saúde para dar e vender, Seu Batista voltou para as ruas da cidade para fazer o que mais gosta nessa vida: trabalhar e adoçar o dia das pessoas.
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FICHA TÉCNICA
Fotografia e reportagem: Joalysson Gonçalves; Charles Dias; Gabrielly Farias e Aline Pereira
Edição: Joalysson Gonçalves e Charles Dias
Monitoria: Ester Bezerra
Supervisão editorial: Ada Guedes e Rostand Melo
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