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Da simplicidade da vida rural à complexidade do mundo espiritual: conheça o médium Severino Quintiliano

  • coletivof8noite
  • 26 de ago.
  • 3 min de leitura

foto: Paloma Silva
foto: Paloma Silva

Aos 86 anos, Severino Quintiliano dos Santos, preserva como fonte de sustento a agricultura, no sítio Fortuna, localizado em Barra de Santa Rosa, no interior da Paraíba. Nascido e criado em ambiente rural, manter essa atividade ao longo de toda a vida é comum, o que torna Severino conhecido em sua região e fora dela é o dom da mediunidade.


Severino é procurado diariamente por diversas pessoas que chegam até ele em busca de orações, orientações e revelações. Sua história como médium é singular, especialmente porque ocorre fora dos grandes templos religiosos, seu trabalho se faz em casa. A mediunidade se manifestou em sua vida de modo que foi impossível guardar o dom só para si, assim, a transformação que ocorreu para ele afeta a vida de quem o procura.


“A mediunidade é um mistério. Daria pra fazer um filme”

Vindo de uma família de poucas condições, ainda criança precisou começar a trabalhar na agricultura. Ficou tão pouco tempo na escola que nem conseguiu aprender a contar, sua tia era sua professora. Ele lembra a dificuldade que tinha para entender as explicações e o método rígido não o ajudava na compreensão dos assuntos. Foi quando decidiu abandonar a sala de aula e trabalhar na lavoura, aos oito anos de idade.


“Meus pais eram pobres, e eu tenho seis irmãos. Meus pais eram pobres e ignorantes”

Como muitos jovens da época, Severino fora viver em Recife, capital do Pernambuco, em busca de oportunidades de emprego e foi lá onde conseguiu trabalho e descobriu sua mediunidade, aos 20 anos, quando um amigo lhe apresentou uma baiana, dona de um centro chamado Umbanda e Espiritismo. Foi nesse centro que Quintiliano descobriu seu dom. Ali, lhe foi oferecido um emprego que consistiria em ajudar as pessoas, no entanto, o recusou ao descobrir que quem o procurasse precisaria pagar.




“O Evangelho diz: ‘dai de graça o que de graça recebestes.’ Eu nunca cobrei um centavo de ninguém. Eu mostro o poder de Deus ao povo”

Com emprego fixo em Recife e experimentando melhores condições de vida, ele dedicava-se ao trabalho, mas acabou sendo demitido, pois a todo momento iam pessoas em busca dele para receberem suas preces. Foi quando resolveu então voltar para o sítio Fortuna, na Paraíba, e viver da agricultura, pois assim conseguiria conciliar a vida espiritual e o trabalho.

Nascido e batizado no catolicismo, Severino entende que a mediunidade não é aceita em sua religião, mas afirma que já realizou exorcismos e já recebeu visitas de padres em seu sítio, um chegou a perguntá-lo como ele tinha tanta sabedoria, se não sabia ler.


Quem o conhece o descreve como um homem de muita fé e conhecimento bíblico. Mesmo sem saber ler nem assinar o próprio nome, demonstra um profundo conhecimento sobre as escrituras bíblicas e as explica com dedicação para quem está disposto a ouvir, como as pessoas que o procuram em busca de preces e orientações.


Confira imagens da entrevista no slideshow:


Não tem o dom da clarividência, mas sim o do manifesto e transmissão de pensamentos. Afirma que por vezes fala coisas que não consegue compreender. Ao explicar como os atendimentos funcionam, nos contou que as pessoas chegam, ele explica que Deus é sobre todas as coisas, após isso ele reza, fala e faz o que seu dom o inspira.


“Eu acho marcante o fato de pessoas de outros estados me telefonar e eu rezar uma prece para essas pessoas e depois elas me ligarem para agradecer. Eu mando agradecerem a Deus, porque pra mim não me interessa apoio”

Aliás, apoio não foi algo que Severino encontrou no início de sua jornada e tão pouco sente que precisa. Familiares desacreditaram de sua mediunidade e até sua primeira esposa não compreendeu sua missão. “Eu tinha uma prima chamada Maria Iara e minha primeira esposa tinha muito ciúmes, pois achava que tínhamos um caso. O primeiro espírito que baixei se chamava Maria, ela achou que era algum envolvimento com a minha prima. No outro dia quando voltei do trabalho, minha esposa tinha ido embora”.


Com sua segunda esposa, com quem vive há 50 anos, em contato com seus cinco filhos e seis netos, Severino segue tranquilo, sem se preocupar com a compreensão clara de tudo que o cerca. Seu compromisso está em ajudar quem o busca, fazendo aquilo o que seu dom o capacita, atendendo até o dia em Deus o permitir.




Severino costuma acompanhar os visitantes até a porteira, onde se despede de modo carinhoso. Foto: Izabel Muniz
Severino costuma acompanhar os visitantes até a porteira, onde se despede de modo carinhoso. Foto: Izabel Muniz
Expediente:

Entrevista: Renally Dantas e Izabel Muniz

Redação: Izabel Muniz e Maria Clara

Supervisão: editorial: Rostand Melo e Ada Guedes

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