Por uma voz doce e suave, uma nova história é contada, e a narradora dela é a própria protagonista. A personagem, apesar de não ter sido escrita por Aguinaldo Silva para compor uma de suas novelas, ou pelo romancista Jorge Amado, é uma pessoa que facilmente seria personagem das histórias deles. Sarah Cristinne Firmino, a menina bossa nova, a leitora de clássicos e contemporâneos, a que ama música, do forró raiz ao rap, a mulher que exala cultura, leveza e arte… essa história é sobre ela.
Sarah nasceu em 7 de maio de 1999, em Araripina - PE, pertinho da terra onde nasceu o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Filha de pai pernambucano e mãe paraibana, passou a vida inteira na dicotomia entre esses dois estados: “Minha família inteira é metade pernambucana e metade paraibana. Então, essa raiz nordestina é a minha base, é meu tudo”, conta. Embora haja esse pertencimento nos dois lugares, a separação dos pais a fez criar maiores laços com a família materna, vindo morar aos 2 anos de idade em Campina Grande - PB, onde mora até hoje, aos 24.
A nossa personagem, que aos poucos está sendo conhecida, já nasceu com uma forte ligação com as artes, apesar de não ter ninguém próximo para inspirá-la com isso. Pelo menos não alguém da ‘vida real’, porque os da ficção a faziam sonhar acordada com a arte do teatro, da música e da poesia. Suas brincadeiras eram sempre envolvidas com dança, teatro e cultura no geral. É tanto que, ainda criança e sem nem saber escrever, fez o seu primeiro poema com a ajuda da avó, que escrevia enquanto ela recitava. A sensibilidade artística logo foi percebida pela família, já que a Sarah criança chegava a chorar ao escutar músicas e poemas de Vinicius de Moraes.
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O tio, mesmo sem saber muito o que fazer, resolveu presentear a sobrinha com uma caixa cheia de DVDs, no aniversário de 10 anos. “[...] o meu tio me deu uma caixa repleta de blu rays, que na época a gente não chamava assim, mas eram DVDs, de várias novelas antigas… tinha “Roque Santeiro”, tinha “Escrava Isaura”, tinha “Tieta do Agreste”, “O Bem- Amado”, muitas novelas antigas… porque na cabeça dele, como eu gostava de arte, de brincar de filminho, de atuar, ele achava que isso, de alguma maneira, eu fosse gostar…”.
A partir disso, inspirada pelos personagens das novelas, menção especial à Viúva Porcina, de Roque Santeiro, Sarah colocou em seu coração que queria fazer teatro. E com esforço e coragem dignos de uma protagonista de alguma ficção, ela foi em busca de realizar esse desejo.
As novelas, que já a faziam ‘atuar’ em casa, decorando as falas, foram mais que um incentivo para Sarah se aventurar pelo teatro. Quando a garota tinha seus 13 anos, o Teatro Facisa foi inaugurado, trazendo consigo as tão esperadas aulas de teatro. Muito esperta e sem medo, Sarah decidiu que iria assistir às aulas e, para isso, já pensava na ajuda que seu tio - o mesmo que a presenteou com os DVDs - poderia oferecer, já que ele cursava Direito na faculdade.
Porém, apesar de tudo parecer muito fácil, a vida real tem as suas dificuldades. A menina era menor de idade, e consequentemente, não estava matriculada em nenhum curso da instituição, o que era necessário. Mas, como as histórias têm finais felizes, a de Sarah não foi diferente. A professora, Valquíria Gonçalves, permitiu que a menina ficasse como ouvinte, observando cada ensinamento, o que a fez ir se integrando e participando cada vez mais, tornando-se até a protagonista do 1º espetáculo.
A linha do tempo, como toda e qualquer história, não parou. Os anos passaram-se voando e a nossa personagem já estava com 18 anos. A infância marcada por muita imaginação e aventura, precisava ser deixada de lado, pois Sarah precisava decidir qual seria sua formação acadêmica, o que era uma exigência da família. E, apesar de não ter o curso de Teatro, que era o que tanto sonhava, uma alternativa foi encontrada: o Jornalismo, e mais especificamente, o jornalismo cultural. “Então, eu entrei em Jornalismo em 2017, na UEPB, já com o foco no Jornalismo Cultural, o que já era o que eu gostava, o que eu já encontrava a arte, o que eu me encontrava…”
A escolha, outrora inesperada, acabou rendendo bons frutos e abrindo um caminho cheio de possibilidades para a nossa personagem. Já no 1º estágio, Sarah deu de cara com um novo amor no ramo das artes: o cinema. A partir disso, começou a mostrar o seu talento por trás das câmeras trabalhando como produtora visual, o que lhe rendeu até prêmios. Mas, voltando para o lugar de destaque, ela finalizou o curso com o estágio na Rede Ita, falando diretamente sobre Jornalismo Cultural, o que lhe deixou ainda mais próxima àquilo a que ela já estava acostumada e se sentia à vontade. E, fechando com chave de ouro essa jornada, o tema do seu TCC falava sobre música, algo que ela está mais do que ambientada.
Caminhar e conhecer sobre a vida de Sarah é quase como andar por um antiquário ou museu. É estar envolta dos mínimos detalhes da arte. No catálogo de alguma plataforma de streaming ela seria a série "Coisa Mais Linda", com uma estética antiga, muita música e mulheres empoderadas. Na arte literária, Regurgitofagia, cheio de reflexões, é o livro da sua vida. Entre obras de Jorge Amado, Vinicius de Moraes e outras influências literárias antigas ou mais atuais, Sarah moldou sua personalidade e emana cultura por onde passe. Seu retrato é um sorriso encantador e um verso na palma da mão e, com isso, consegue encantar qualquer pessoa que esteja disposta a ouvi-la.
A menina sonhadora que conhecemos não se perdeu pelo caminho, mas se tornou uma mulher forte e determinada, com um amor ainda maior por tudo que carrega o termo ‘arte’ em sua bagagem. Agora mais do que nunca, continua trilhando seu caminho e, dessa vez, em busca da concretização de um sonho que surgiu no início de sua graduação: atuar no cinema.
Mas, enquanto ela não se torna uma estrela da cinematografia, ela já é a estrela da própria história. Uma história que nos inspirou, e que, ao mesmo tempo, nos deixou sem palavras para falar sobre uma protagonista tão imersa e preenchida por todas as artes. Pensar em Sarah, que de início mal conhecíamos, é pensar em astros, música, dança, literatura, teatro... em tudo que guia o ser humano para uma vida melhor. É pensar em sorrisos, tranquilidade e simplicidade. Esta é a nossa personagem da vida real, apaixonante como inúmeras da ficção.
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FICHA TÉCNICA:
Cobertura fotográfica: Ana Flávia Aires, Hillary Costa e Kauanny Lima
Entrevista: Lucas Gonçalves
Produção textual: Ana Flávia Aires
Supervisão editorial: Rostand Melo
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