Projeto de Extensão coordenado pela professora e artista plástica Val Margarida coloriu o prédio da Central Acadêmica Paulo Freire (CAPF) em Campina Grande
Idealizado pela professora e artista plástica, Valdecy Margarida da Silva, carinhosamente chamada de Val Margarida, o Ateliê Aberto veio para trazer vida às colunas da Central de Integração Acadêmica Paulo Freire (CAPF), localizada no campus I na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no bairro de Bodocongó, em Campina Grande. O espaço virou uma grande galeria de arte, com obras de artistas locais que retrataram ícones da nossa cultura.
Sem nenhum apoiador direto, a proposta inicial como oficina acabou se tornando projeto de extensão e hoje tem perspectivas para ir além do espaço da universidade.
Nessa entrevista, Val Margarida, como é mais conhecida, fala sobre como foi à ampliação do projeto e como tudo foi tomando uma proporção que nem ela imaginava. Val também fala sobre seu trabalho e identificação com a arte, sobre futuro do Ateliê e a emoção de ver seu pai, Zé do Pife, grande artista popular, homenageado entre outros expoentes da nossa cultura popular.
Por que o nome “Ateliê Aberto’’?
Porque eu gosto muito de trabalhar em grupo, acho que a gente não consegue nada sozinho. Gosto de fazer as coisas em conjunto. Quando planejei o Ateliê com a minha turma, eu não queria só a minha turma pintando, queria a turma da noite. Esse ateliê não existiria se não fosse o trabalho coletivo. A proposta inicial é que a gente trouxesse outras turmas, inicialmente de pedagogia, que trouxesse os professores, os técnicos, só que foram chegando outras pessoas. Tenho essa plena consciência de que nada grandioso se faz sozinho, não tem como. É por isso que tem esse sucesso todo, porque a gente tem um monte de gente envolvida.
Em uma entrevista, você destaca que o “Ateliê Aberto” começou como uma oficina, já havia a ideia de homenagear grandes artistas?
Inicialmente não, quando a gente ainda estava naquele corredor, a gente começou a pensar na possibilidade de fazer algumas homenagens, aí Carmem Sheila (artista plástica) trouxe um aluno dela que é brilhante, Tássio. Depois eles planejaram fazer papai, que é seu Zé do Pife. Depois outros artistas foram fazendo também. Foi um movimento meio que bem espontâneo e eu fiquei muito feliz com o resultado.
Da oficina para uma grande galeria na Universidade. Como foi essa ampliação?
Da oficina para um projeto de extensão, foi um pulo, tanto é que já recebi várias tintas semana passada e que eu já vou guardando para agosto, para a segunda etapa. Já ganhei do CEDUC várias tintas, então a gente vai pintar agora com força. Eu quero que venha gente de vários lugares. Meu objetivo é transformar esse prédio numa grande galeria ao ponto de que as pessoas, não só da UEPB, mas de outros lugares, venham visitar, venham ver a grande galeria que está aqui.
Como foi a produção do Ateliê? Como alcançou os artistas que fizeram suas pinturas?
As pessoas começaram a me procurar e procurar Carmen. A gente começa com a oficina e as redes sociais ajudaram muito. Vários alunos me procuraram pelo Instagram, depois começou a sair tudo muito orgânico, não fui procurar a imprensa, quem organizou a inauguração da galeria foi o CEDUC. A inauguração foi um sucesso. Saíram duas matérias na página da UEPB, a TV Itararé ficou sabendo, veio também. Sou muito feliz com o que a arte me proporciona. Eu fico muito feliz, muito grata, porque tomou uma repercussão, que eu não planejei.
Quais as instituições, instâncias ou pessoas que auxiliaram na logística e execução do projeto? Apoiadores diretos?
Não, até agora não. Fomos nós, os artistas. No finalzinho eu estava parando de comprar, foi uma despesa enorme, eu paguei almoço de artista, café, lanchinho de artista. Teve gente que veio de fora, não tive coragem de deixar uma pessoa pintando aqui e pagar o próprio almoço, e no finalzinho eles estavam comprando tinta também. A gente não recebeu apoio. No início pedi ao CEDUC, só que não tinha verba. Essa chegou, mas só agora, semana passada.
O que você sentiu ao ver o seu pai, “Zé do pife”, um dos artistas mais reverenciados da cultura nordestina, representado nas colunas da UEPB?
A universidade é a minha casa, o espaço que comecei uma atividade, e de repente ter um registro ali, do meu pai, uma das pessoas mais significativas pra mim. Fiquei muito feliz com essa homenagem. Elas fizeram até uma homenagem a mim também. Colocou Margarida, que é Val Margarida. Colocaram o meu chapeuzinho de couro, pois sempre que eu vinha pintar aqui, vinha com meu chapéu de couro. Até eu que nem precisava ter essa homenagem, tive. Fiquei muito feliz.
Como foi ver tudo ganhando mais cor?
Muito emocionante ver tudo ganhando cor. Teve dia que eu vinha só para olhar. Ficar ali esperando o povo chegar para começar a pintar, para apreciar As alunas chegavam e diziam: “agora dá gosto de vir”. Fiquei também muito orgulhosa de mim, de ter começado todo esse movimento.
Ao passar dos dias, a Central de Integração Acadêmica Paulo Freire vem se tornando um lugar mais acolhedor e alegre, já tem algum plano previsto para expandir essa iniciativa?
O primeiro grande objetivo a gente não conseguiu concluir ainda, que é o que a gente pretende pra cá. Tem outros espaços que a gente quer ocupar, todos os lugares possíveis. Quero transformar esse espaço realmente numa grande obra de arte. Depois, faz parte da nossa luta conseguir um espaço acolhedor, precisa de sofá, de banquinho, de cadeira, precisa da mesa pra colocar os computadores. Não adianta eu dizer que tem as paredes pintadas e tem espaço acolhedor sem providenciar o que os alunos precisam pra realmente ser acolhedor. Vou continuar nessa luta. Estou assumindo a coordenação de pedagogia e a minha luta também vai ser essa. Depois desse prédio, tem outros lugares que o pessoal fica convidando a gente. A ideia é que seja um projeto de extensão que ultrapasse o campus I, que a gente possa se tornar uma ação da UEPB em outros lugares.
Val, há algo que você gostaria de falar que não mencionamos aqui?
Queria lembrar a frase de Nietzsche que diz: a arte existe pra que a vida não nos destrua. A arte entrou na minha vida com esse propósito, de me resgatar, meio que do fundo do poço. Me trouxe de volta pra vida, me trouxe alegria, me fez conhecer outras pessoas, outros lugares. Eu estou muito feliz com minha arte e com esse projeto que envolve outras pessoas e traz essas pessoas pra arte. Fico muito feliz por esse movimento.
Confira mais imagens no slideshow:
FICHA TÉCNICA:
Pauta: Sara Kely, Lozane Dias e Evellyn Alessandra.
Fotografias: Lozane Dias, Sara Kely, Poliana Sousa e Evellyn Alessandra.
Entrevista: Poliana Sousa, Lozane Dias.
Produção: Sara Kely.
Monitoria: Vitória Félix
Revisão: Supervisão editorial: Rostand Melo e Ada Guedes
Entrevista Maravilhosa
Parabéns todos da equipe.
Amei seu trabalho. Continue nessa caminhada.