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  • Arnaldo Neto, Josineide Barbosa

BLACK POWER: INSTRUMENTO DE RESISTÊNCIA E IDENTIDADE


Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado…

Considerado por muitos como um instrumento estético, em tempos de fragmentação das identidades, o cabelo vai muito além disso. Uma simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa, especialmente entre a população negra.

O cabelo deixa de representar aparência e toma significados maiores. A partir da década de 1950, o Black Power passou a significar um encontro com a identidade e uma ferramenta de afirmação.

A trajetória do estilo Black Power teve início nos anos 1920, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistiu na necessidade de romper os padrões de beleza eurocêntricos e, a partir disso, promover o encontro dos negros com suas raízes africanas.

Décadas depois, nos Estados Unidos, o afro passou a ganhar espaço e se tornou um dos grandes responsáveis na luta pelos direitos civis no ano de 1960. No entanto, foram as mulheres as grandes protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas romperam padrões e decidiram andar pelas ruas ao natural, o que causou espanto e resistência na comunidade branca.

Seguindo o exemplo daquelas mulheres, Juliana Alves, estudante de Educomunicação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e membro ativo na luta por direitos na comunidade negra, decidiu deixar a progressiva de lado e passar pela transição capilar. A decisão aconteceu por influência de sua tia Ângela, e este fato mudou todo o rumo de sua vida.

Mesmo com o apoio, Juliana afirma que encontrou muitas dificuldades para se adaptar, tanto em sociedade, quanto consigo mesma.

“Um dos pontos, foi que eu não tive apoio, basicamente, de ninguém, apenas de uma amiga, que me ajudava na escola, não me deixou desistir. A todo momento eu pensava nisso. Também não tinha apoio do meu pai, minha mãe, irmão..."

"Aprendi a me preparar psicologicamente para quando eu sair na rua. Sempre tem pessoas que soltam piadinhas, olham diferente para mim, algo do tipo", comentou Juliana.

Dentre as inúmeras coisas que tomam a sua rotina, Juliana conta que ataques são frequentes. Opiniões sobre seu cabelo, comentários maldosos e até mesmo elogios, que se tornam menores quando está ao lado do seu namorado, Julio Oliveira.

São quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade na diáspora, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja na política ou nas artes, o Black Power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um símbolo de respeito.

FICHA TÉCNICA:

Monitoria: Carla Miranda

Supervisão Editorial: Rostand Melo

Agradecimentos: Juliana Alves e Julio Oliveira


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